sexta-feira, 15 de julho de 2011

O Segredo de Barcarrota (Sérgio Luís de Carvalho)

Médico na vila de Barcarrota, Francisco de Penharanda vive entre as suas funções e os seus segredos. Ao mesmo tempo que lida com a doença mental da mulher, Francisco tem também de manter bem ocultos os seus segredos já que os olhos da Inquisição estão em toda a parte e as consequências serão severas caso a sua posição de judeu oculto seja descoberta. Entretanto, o pároco da vila - que tem o particular dom de manter com o diabo alguns diálogos interessantes - é substituído. E o recém-chegado Frei Ruiz do Monte Sinai, com a sua postura severa e o seu conhecimento inegável, surge também como um mistério e uma ameaça, abalando a tranquilidade das gentes de Barcarrota com o medo que se insinua na sua chegada.
Envolvente e com uma voz narrativa muito própria, este é um livro que cativa desde as primeiras páginas. Primeiro, pela situação de abertura que é, por si só, um elemento intrigante e que desperta curiosidade. Depois pela forma como, com fluidez e sem elaborações desnecessárias, o autor constrói um enredo interessante onde cada uma das diferentes personagens tem características muito definidas e histórias com muito de cativante. A isto junta-se ainda a aura de medo que, com a ameaça da Inquisição, cria no ambiente geral toda uma nova tensão, resultando numa história interessante, com um bom protagonista e um contexto histórico apresentado de forma precisa e sem monotonia.
Há várias personagens interessantes ao longo do livro, mas é inevitável que se destaquem Francisco de Penharanda e Frei Ruiz de Monte Sinai. Ambos têm personalidades fortes, segredos profundos e uma história marcante. É a estranheza da tensão que se cria entre ambos, ainda assim, que confere a ambos o maior fascínio, já que, entre acontecimentos, insinuações e ameaças, o contraste entre as suas personalidades evidencia-se e a linha que separa a empatia da inimizade surge cada vez mais ténue. Há, ainda, algo de trágico que se insinua e que apenas na fase final da narrativa encontra a possível resolução.
Um livro envolvente, com uma escrita agradável e um ambiente bastante cativante, O Segredo de Barcarrota marca, ainda assim, principalmente pela empatia e pela emoção das suas personagens. Percorrendo com fluidez um amplo espectro de laços e de emoções, - do medo à esperança improvável, passando pela amizade, lealdade e traição - é nos detalhes de cada momento que se encontra o melhor deste livro. Cativante. Emotivo. Muito bom.

2 comentários:

  1. Carinhosamente venho desejar
    um feliz final de semana.
    beijos no coração,Evanir.
    Fiquei maravilhada com seu blog.

    ResponderEliminar
  2. Gostei muito do seu comentário, concordo completamente com ele. Ando a estudar português e tenho que fazer uma exposição do livro. Tentarei voltar mais vezes a ler o seu blog que acho maravilha.

    ResponderEliminar