domingo, 10 de julho de 2011

Os Infinitos (John Banville)

Adam Godley, conceituado matemático, encontra-se no seu leito de morte após um grave acidente vascular cerebral. E, enquanto a família se reúne para partilhar com ele os seus últimos dias, há outras presenças que, silenciosas nas suas manipulações, observam e tiram proveito das circunstâncias. Figuras divinas que contemplam a passagem dos dias, mas que não se limitam a ver a humanidade passar, interferindo de acordo com os seus próprios interesses e caprichos.
Com uma escrita elaborada e um tom que oscila entre um humor ligeiro, a descrição exaustiva e o ritmo de divagação, este é um livro que deixa sentimentos ambíguos. A primeira impressão é de surpresa, já que o autor tem uma voz muito própria e isto transparece quer na forma como apresenta as suas personagens, quer na forma como a narrativa dá voz ao temperamento do seu narrador: a saber, Hermes, mensageiro dos deuses.
Passado o impacto da descoberta inicial, contudo, o estilo narrativo, cheio de divagações e de associações imprevistas, com muito de surreal pelo caminho, acaba por se tornar, por vezes, cansativo, já que, entre as pequenas intervenções dos deuses e a estranheza das relações entre esta muito particular família humana, há toda uma série de reflexões e devaneios, que se alongam de tal forma que o fio narrativo acaba por se perder entre as longas descrições e diferentes linhas de pensamento.
Tendo como tema central a morte, é curioso notar que a perda iminente não é o elemento principal neste livro. Na verdade, a morte mais ou menos garantida de Adam Godley acaba por ter um papel secundário ante os desequilíbrios mentais de Petra, a vida amorosa de Adam (o filho do moribundo) e Helen (ligeiramente manipulada pelos apetites de Zeus), as memórias de Ursula e do próprio Adam pai e até algumas pequenas atribulações na vida de elementos menos relevantes. O resultado é um livro que, entre visões do que separa deuses de humanos, possibilidades de perdas menos definitivas (romances que quebram, por exemplo) e descobertas de novas emoções, funciona, acima de tudo e apesar da morte como evento principal, como uma visão da vida e da imortalidade.
Não é uma leitura fácil. Deixando os maiores acontecimentos para uma fase muito avançada da narrativa, não é sequer no enredo que reside o ponto central deste livro. Há, ainda assim, algo de cativante na forma como o autor dá voz a deuses tão humanos como qualquer mortal e é neste aspecto que, apesar dos momentos mais monótonos e mais cansativos, se encontra o principal interesse desta leitura.

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