quinta-feira, 21 de julho de 2011

A Dance with Dragons (George R.R. Martin)

Não há paz quando o legítimo soberano é apenas uma criança no centro de uma teia de intrigas e o jogo dos tronos envolve demasiados aspirantes ao poder. O Inverno aproxima-se. Lordes e soberanos procuram marcar a sua posição, seja por via de batalhas ou por métodos mais esquivos. A norte, a Muralha é o único obstáculo à passagem de uma ameaça que se ergue do mundo dos mortos, mas nem aí as lealdades são menos vacilantes. E, para cada pretendente à soberania, há servos e cavaleiros, irmãos e inimigos, num desfiar de decisões, percursos e traições após as quais nada será igual. Pois tudo no mundo tem consequências e uma coisa é certa: ninguém está seguro.
Se há algo que se tornou já familiar para quem acompanha esta saga é a certeza de que tudo pode acontecer e que, por mais heróica que seja uma personagem ou por mais nobres que sejam os princípios, ninguém está a salvo da traição e da morte. Desde o primeiro volume que muitas surpresas se sucederam, personagens que pareciam seguras encontraram um fim inesperado e o que parecia ser um rumo certo surgiu como nada mais que ilusão. A Dance with Dragons não foge a estas características e, entre batalhas e conspirações, surpresas e momentos intensos são o que não faltam a esta leitura, sendo inclusive algumas delas particularmente marcantes pela forma como o autor as aprsenta - deixando no ar a dúvida e, como tal, a insaciável curiosidade em saber o que terá acontecido.
Não havendo propriamente um protagonista, mas sim uma série de histórias entrelaçadas, o enredo tem vindo a ganhar complexidade de livro para livro, o que leva a que, percorrendo os caminhos de diferentes personagens, algumas delas tenham em cada volume um maior protagonismo. Esta diversidade de linhas e pontos de vista permite um maior conhecimento de cada personagem, o que me leva ao que é, para mim, o mais interessante desta saga: a construção das diferentes personalidades. Há muitas personagens fortes e um evidente contraste entre as escolhas e valores de cada uma delas. Ainda assim, e por mais que algumas das principais figuras desta história pareçam, a certo ponto, tornar-se familiares, há sempre a possibilidade de uma mudança. Os grandes acontecimentos fazem com que as personagens evoluam (se tiverem tempo suficiente para o fazer). Figuras inicialmente odiadas acabam por conquistar a empatia do leitor e aqueles que, por atitudes ou princípios, desde o início se revelaram mais próximos podem sempre revelar alguma falibilidade ou encontrar-se numa situação que revelará as suas vulnerabilidades.
Uma boa parte de A Dance with Dragons coincide, na linha temporal, com o livro anterior, daí que haja um maior destaque para personagens que não apareceram (ou apareceram muito pouco) em A Feast for Crows. Destas, importa realçar o percurso de Jon Snow, que, neste livro, é toda uma imagem de crescimento e vontade, ainda que também uma caminhada solitária, culminando num momento de particular intensidade e numa imensa pergunta a descobrir (esperemos) no livro que se seguirá. Mas há muitas outras personalidades e histórias a descobir. Também Daenerys Targaryen tem grande protagonismo neste livro, ainda que o seu percurso seja um pouco menos cativante, já que a sua personalidade acaba por se revelar mais como a da rapariga influenciável que a da rainha e "mãe" do seu povo. Ainda, entre as figuras de maior protagonismo, falta referir a grande evolução na figura de Theon, cujas anteriores atitudes detestáveis parecem perder-se ante a consequente provação, criando uma quase involuntária empatia.
Tal como em A Feast for Crows, o ritmo da narrativa é relativamente pausado e, da maioria dos acontecimentos, o resultado parece ser mais o de um novo posicionamento das forças em conflito, deixando os passos para a resolução essencial ainda em aberto para os livros que se seguirão. Ficam também muitas perguntas sobre o futuro das diferentes personagens e a impressão de que há ainda muitíssimo para acontecer. A impressão global é a de um livro que, não tendo a força compulsiva dos primeiros livros, acrescenta, ainda assim, uma série de elementos interessantes, preparando território para maiores acontecimentos.
Foi longa a espera por este A Dance with Dragons. E, mais uma vez, muito fica por dizer. Valeu a pena, ainda assim, esperar por este regresso cativante e cheio de surpresas. Agora, começa a contagem dos dias (e dos anos?) até à chegada de The Winds of Winter.

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