domingo, 28 de março de 2010

Os Dias da Febre (João Pedro Marques)

Ao descer a calçada na companhia do seu marido, Elvira avista uma figura familiar. Não está certa do que vê, mas parece-lhe ser Robert Huntley, um velho amigo do irmão por quem, em tempos, alimentou uma paixão platónica. O surto de febre amarela que grassa por Lisboa, contudo, fará com que os seus caminhos se cruzem e o amor ilícito que existe entre ambos ganhará uma nova vida.
Partindo de um ponto simples - o momento em que Elvira avista Robert - e divagando depois para outros momentos e personagens, com recurso a recuos temporais, quando necessário, o autor dá-nos uma visão clara, ainda que não demasiado aprofundada, dos costumes da época. E se, mais que uma história em si, o surto de febre amarela surge mais como um contexto para a história de amor que constitui a essência deste romance, não deixa por isso de ser interessante a forma como o autor nos apresenta, em pequenos fragmentos, os elementos essenciais sobre esse surto, desde as teorias dos médicos e da Igreja à forma como a população reagia.
A escrita é bastante acessível, sem floreados desnecessários e existem alguns momentos verdadeiramente marcantes ao longo deste livro. Ainda assim, o romance entre Robert e Elvira acaba por se dispersar, em grande parte, por entre as visões do passado de ambos e dos que os rodeiam, pelo que me foi um pouco difícil - apesar de toda a história do marido de Elvira o converter numa personagem muito fácil de odiar - envolver-me por completo na relação amorosa dos protagonistas.
Curiosamente, apesar da história do seu amor não me ter emocionado particularmente, é a caracterização de Robert o que eu achei mais marcante nesta leitura e se, com a sua ligação a Elvira não me comoveu particularmente, o mesmo não se pode dizer da sua relação benevolente para com as mulheres necessitadas e do gesto de coragem que, na fase final do livro, acaba por marcar toda a sua história.
Um livro com um contexto histórico bastante interessante, que transmite bem a imagem de uma Lisboa de outros tempos e que, com os seus momentos mais marcantes, não deixa de ser uma leitura envolvente e agradável. Gostei.

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