segunda-feira, 18 de junho de 2012

Alma Rebelde (Carla M. Soares)

Joana é a filha de um homem abastado, que deseja estabelecer ligações à nobreza e que, por isso, decide oferecer a filha em casamento ao herdeiro de uma família de sangue nobre numa situação financeira precária. Preparada desde cedo para uma vida em que a sua vontade não conta, Joana tenta esperar o mal menor e acreditar que o futuro marido conseguirá manter com ela uma relação de cordialidade, pois sabe que há casamentos que escondem uma verdadeira vida de tortura. Mas Santiago é tudo, menos o que Joana esperava. Impulsivo, pouco preocupado com as regras da sociedade e incapaz de conter a mesma rebeldia que Joana aprendeu a esconder dentro de si, Santiago revela-se não só como o exacto oposto do esperado, mas também uma personalidade fascinante e um homem determinado a fazer do seu casamento mais que o negócio que começou por ser.
Do muito de bom que há para dizer sobre este livro, o primeiro aspecto que se destaca é, desde logo, a escrita. Fluída e envolvente, com momentos quase poéticos a contrastar com a simplicidade que certos momentos exigem e permitindo uma visão bastante clara dos pensamentos e das emoções dos protagonistas, a narrativa flui com naturalidade, criando empatia ao mesmo tempo que apresenta, gradualmente, as personagens e a história que têm para viver.
Também na história há muito para descobrir. A situação de Joana e Santiago, enquanto peças complementares dum negócio imposto pela família, levanta uma série de questões interessantes, desde o papel da mulher na sociedade da época à impotência de um filho, mesmo se adulto e consciente, ante a vontade de um pai que é dono e senhor de todo o património familiar. E, destas questões maiores, surgem aspectos mais pessoais, principalmente no caso de Joana. Hesitante, insegura ante o novo mundo que a espera e com uma compreensível tendência para sofrer por antecipação, a sua posição entre a rebeldia e o medo acaba por reflectir uma inesperada posição de força, numa situação em que coragem é aceitar o inevitável e encontrar a melhor forma de viver com isso.
Todos os acontecimentos ao longo da narrativa têm algo de interessante, quer no que diz respeito aos preparativos e às circunstâncias do casamento, quer na situação bastante mais complicada em que os protagonistas se encontram já numa fase mais avançada do enredo. Ainda assim, se há um ponto forte que sobressai sobre todo o resto, é a caracterização dos protagonistas e o evoluir da relação entre ambos. É fácil criar empatia tanto com Joana como com Santiago, ainda que o papel deste último lhe permita expressar mais livremente valores e convicções. Além disso, é curioso o contraste e o choque que se cria quando os temperamentos de ambos colidem, quando, no essencial, ambos se movem pelas mesmas razões. Enquanto figuras individuais, tanto Joana como Santiago têm o carisma que apela à proximidade. Enquanto casal, o crescimento gradual - e atribulado - da relação entre ambos é cativante e enternecedor. Do final, fica a impressão de uma conclusão mais que adequada e, ao voltar da última página, uma certa saudade das personagens.
Envolvente, belo na escrita e na narrativa, com as medidas certas de emoção e um conjunto de personagens carismáticas e fascinantes, este é um livro que conjuga as medidas certas de leveza e de complexidade, numa história de amor tocante e surpreendente, e toda ela de momentos muito bons. 

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