sábado, 9 de junho de 2012

Eu Sou Deus (Giorgio Faletti)

Muitos anos antes, um homem foi usado como escudo humano na guerra do Vietname e sobreviveu com graves sequelas físicas e mentais. Agora, há um assassino em série que tem conhecimentos privilegiados e a capacidade para provocar um elevado número de mortes com o simples pressionar de um botão. Depois da primeira explosão, os sinais são contraditórios e as pistas poucas e de credibilidade duvidosa. Mas Vivien Light tem de encontrar as respostas de que precisa para deter um assassino que afirma ter nas mãos o poder da divindade... É que tudo indica que ele voltará a atacar.
Tal como aconteceu em Eu Mato, também este livro está longe de ser de leitura compulsiva, ainda que contenha todos os elementos que definem uma história envolvente e complexa. E é-o de facto, ainda que os muitos detalhes e as muitas personagens (e respectivas histórias) que se cruzam ao longo do enredo lhe confiram um ritmo bastante pausado. Trata-se, portanto, de uma narrativa que evolui lentamente, à medida que o passado e a forma como este influencia tanto o assassino como aqueles que o investigam é gradualmente revelado. 
Mais que a história do homem por detrás das explosões, esta é a história dos que as investigam e das circunstâncias que os definem. A história de Russell e de como uma vida passada na sombra do irmão morto o tornou aparentemente incapaz de viver por si próprio - pelo menos até encontrar um bom motivo. A de Vivien, com os seus problemas familiares, e as dificuldades de ser a irmã presente quando a cidade precisa que a sua atenção tenha outro foco. A do padre Michael, ainda, com as suas obras meritórias e os segredos revelados quando o seu caminho se cruza com o do assassino. E, de todas estas histórias que deixam, por vezes, a impressão de não terem grandes relações e de deixarem ao criminoso uma presença demasiado discreta, resulta um final que surpreende tanto pelo inesperado da revelação, como pela forma como todas as peças que pareciam dispersas encaixam num todo que faz sentido.
De todas as histórias que se cruzam e, mais que da parte do enredo que se relaciona directamente com a investigação do crime, destaca-se, a nível de empatia, a história de Russell e, principalmente, a forma como a relação deste com o pai acaba por evoluir. Não sendo propriamente de natureza emotiva, sobressaem, ainda assim, os momentos que os aproximam e que revelam as semelhanças que nenhum dos dois gostaria de assumir.
Envolvente, ainda que de ritmo pausado, com alguns momentos particularmente intensos e uma história complexa e intrigante, Eu Sou Deus surpreende pela forma como equilibra um conjunto de histórias tão diferentes como os seus personagens numa narrativa interessante e surpreendente. Gostei.

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