domingo, 3 de junho de 2012

Na Sombra do Amor (J.R. Ward)

Entre os guerreiros da Irmandade, Phury foi sempre aquele que se destacou pela lealdade e pelo espírito de sacrifício. Muita da sua vida foi dedicada ao objectivo de salvar o irmão. Mas agora é o seu próprio espírito que está em vias de colapso e, perdido entre a compulsão do vício e as sombras de um passado que o leva a ver-se como um falhado, as suas decisões acabam por ser as menos certas e nem os que o rodeiam podem salvar quem não quer ser salvo. Além disso, Phury assumiu uma responsabilidade para com o futuro da raça, mas a atracção que sente por Cormia contrapõe-se às exigências da tradição e à repulsa que sente por si mesmo. Como poderá o guerreiro desempenhar o seu papel quando parece estar a perder a batalha contra as suas próprias fraquezas?
Se, nos livros anteriores, o lado romântico do enredo era complementado por outros elementos sobre a história da Irmandade, as suas batalhas e as relações entre os elementos da raça, e se já no último volume se notava uma diminuição na predominância do romance, em Na Sombra do Amor o lado romântico parece, por vezes, tornar-se um elemento secundário a tudo o mais. É que há desenvolvimentos a surgir em vários níveis, desde a grande mudança no seio dos inimigos, ao crescimento e exposição dos segredos (com todas as consequências associadas) de John Matthew e a toda uma série de circunstâncias que vão alterar o rumo da vida entre os vampiros. Há, ainda, o dilema pessoal do próprio Phury, e a forma como a Irmandade reage, o que acaba por colocar a sua relação com Cormia numa posição relativamente discreta comparativamente a tudo o que está a acontecer ao longo do enredo, o que faz com que, por vezes, e apesar das muitas revelações interessantes a surgir durante a narrativa, fique a sensação de que a história dispersa um pouco, perdendo de vista a história dos protagonistas.
Isto faz com que também as personalidades do casal protagonista não se evidenciem tanto como as dos de livros anteriores. No caso de Phury, há bastante desenvolvimento porque, ainda que o romance seja bastante discreto, o seu estado de desorientação e fragilidade permite ver bastante do que o define - e de como as suas escolhas acabaram por o abalar. É possível, aliás, sentir uma certa empatia, até porque nem todas as escolhas erradas são suas e os sacrifícios do passado nem sempre são valorizados como deviam pelos que o rodeiam. Ainda assim, não é a relação com Cormia o que desperta curiosidade, até porque o florescer da sua personalidade acaba por perder alguma intensidade por entre a multitude de acontecimentos a ocorrer em paralelo à relação.
Há, é certo, momentos muito bons e algumas circunstâncias particularmente comoventes, tanto na história de Phury, como na de John e dos seus companheiros. Além disso, e apesar da dispersão por muitos elementos e de algumas decisões difíceis de compreender, a leitura não deixa de ser envolvente, com algumas boas surpresas a surgir ao longo da narrativa e uma interessante evolução no sentido global dos acontecimentos. 
Fica, em suma, uma impressão global bastante positiva, de um livro que, não tendo a mesma intensidade de alguns dos volumes anteriores, acaba, ainda assim, por acrescentar novos e interessantes elementos a um mundo já com muito de cativante. Longe de ser o melhor livro da série, é, ainda assim, uma boa leitura.

1 comentário:

  1. Em geral, embora os melhores momentos, os mais forte e comoventes, sejam quase sempre entre Irmãos, os casais protagonistas são interessantes. Neste livro, creio que a personalidade de Cormia se perde quase totalmente no meio de tudo o que acontece, e que a relação com Phury não tem força. Dá realmente a mpressão de uma 'segunda escolha',uma consequ^ncia dos sacrifícios que faz, o que não é nada bom num livro deste tipo. Até mesmo o final, quando 'assume' a responsabilidade de todas as Chosen, e ficam a viver todos juntos... please!

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