sábado, 30 de junho de 2012

O Primeiro Alquimista (Sofia Martinez)

Enquanto percorrem o vale em busca do minério necessário para fabricar bronze, o mestre fundidor a aldeia da Fraga e o seu aprendiz ouvem um pedido de ajuda. O que encontram é uma rapariga desconhecida, nitidamente em circunstâncias difíceis e muito assustada ante a perspectiva de ter de revelar seja o que for a seu respeito. Mas Bran não lho exige e, encantado com o que parece ser uma bênção da sua deusa, decide levar a rapariga consigo até à aldeia, onde espera poder adoptá-la como sua filha. Mas a estranha, a quem Bran chamou Nan-tai, tem também os seus segredos e a razão que a levou a uma fuga desesperada pode ser denunciada, pois o seu povo de origem prepara-se para estabelecer relações com o povo da Fraga.
Centrada, em grande medida nos dois protagonistas e na forma como estes assumem o seu papel perante o povo que passa a ser o seu, esta é uma história aparentemente muito simples, mas que, escrita com fluidez e conjugando as medidas certas de acção, contexto e emoção, se torna envolvente desde as primeiras páginas. A aprendizagem do jovem Tor e a fuga desesperada de Breia servem de base para uma apresentação bastante directa, ainda que sem grandes elaborações, dos costumes e modos de vida na Idade do Bronze, quer no respeitante às tradições e ao papel desempenhado por cada elemento da aldeia, como às crenças, ritos e formas de veneração. É, aliás, bastante fácil assimilar o cenário em que decorre a história, já que o desenvolvimento surge na medida em que é relevante para o enredo, e os momentos em que é necessária uma maior explicação (como no caso do fabrico do bronze) são apresentados de forma clara e cativante.
Também a relação entre as personagens é bastante interessante. Se o elo mais evidente é o que une Tor a Nan-tai, com a empatia mútua e um certo sentido de protecção a ganhar destaque, há ainda outros que sobressaem, como a convivência entre Loun e Binan, filhos do chefe da aldeia, surge sem grandes desenvolvimentos, mas evolui de forma interessante, na medida em que, evidente em primeiro lugar pelos seus defeitos, Binan cresce para ser alguém bastante melhor, nos momentos mais importantes. E há ainda a ligação à irmã de Tor, que acrescenta um agradável toque de inocência a um cenário em que os interesses do povo parecem ser, por vezes, o único aspecto relevante.
Fica, nalguns momentos, a sensação de que mais haveria a explorar. Os elementos mais importantes da história são desenvolvidos e não ficam propriamente pontas soltas, mas há situações que parecem ser resolvidas de forma um pouco apressada, deixando a impressão de que mais haveria a ser dito, quer sobre essas circunstâncias, quer sobre os dilemas e escolhas das personagens que as caracterizam. Não são elementos que prejudiquem a coerência do enredo, mas deixam em aberto a possibilidade de uma história que poderia ter sido, talvez, um pouco mais complexa.
Trata-se, em suma, de uma história envolvente e de leitura agradável, com um núcleo de personagens relativamente curto, o que proporciona um enredo bastante simples, mas que cria um cenário claro e interessante do que terá sido a vida na Idade do Bronze. Cativante e com alguns momentos particularmente marcantes, uma boa leitura.

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