quarta-feira, 20 de junho de 2012

Números - Luta contra o Tempo (Rachel Ward)

Jem Marsh tem um dom. Ou uma maldição. Basta-lhe olhar para os olhos de alguém para ver o número correspondente à data da morte dessa pessoa. Soube o que significava esse número quando a própria mãe morreu e, desde então, guardou o segredo ao longo do duro percurso através de novas famílias de acolhimento e novas e complicadas vidas. Mas talvez tudo esteja prestes a mudar. No momento em que conhece Spider, Jem descobre, pela primeira vez, o que é ter um amigo. E quando, durante uma visita ao London Eye, o seu dom faz com que ela e Spider fujam do local poucos instantes antes da explosão de uma bomba, a sua posição torna-se na de alguém que sabe algo que não quer dizer. A solução é, inevitavelmente, fugir, mas durante quanto tempo poderão dois adolescentes manter-se escondidos quando todos os procuram? E mesmo que consigam, onde está a fuga para o número que anuncia a proximidade da morte?
O que primeiro chama a atenção neste livro é, desde logo, o conceito que lhe serve de base. A ideia de uma rapariga capaz de ver a data da morte dos que o rodeiam é, por si só, um ponto de partida com muito potencial, tanto a nível de contexto - os comos e os porquês dessa capacidade seriam algo de muito vasto para explorar - como de proximidade emocional. É, aliás, neste último aspecto que há um maior desenvolvimento, já que as reflexões de Jem sobre a mortalidade e a inevitável consciência resultante de ter uma lembrança dessa mesma mortalidade cada vez que olha para os olhos de alguém, levantam algumas questões interessantes. Ainda assim, o dom de Jem não é tão explorado como poderia, primeiro porque o livro se centra mais na acção e na fuga dos protagonistas e, depois, porque o ritmo acelerado da fase final - e o toque de ambiguidade na conclusão - acabam por deixar pouco espaço para grandes elaborações a nível de explicações e contextos. 
Fica, portanto, a sensação de que mais haveria a explorar nesse aspecto, . Ainda assim, há muito de interessante neste livro. A história central é a de Jem e Spider e da descoberta um do outro e, nesse aspecto, a situação dos protagonistas na sua fuga e na consequente necessidade de se apoiarem mutuamente serve de base a vários momentos marcantes, abrindo caminho para um final particularmente intenso a nível emocional e que marca principalmente por dar expressão a todas as questões acerca da mortalidade e da inevitabilidade do fim que, por vezes, ficam para segundo plano no desenvolvimento da história.
A escrita é bastante acessível, sem grandes elaborações e centrada na narração dos acontecimentos, e também a caracterização das personagens para lá dos protagonistas se resume, em grande medida, à interacção que estas têm com Jem e Spider. Há, ainda assim, o suficiente para despertar empatia, o que, associado aos momentos mais emotivos da relação entre os protagonistas, contribui também para a envolvência do enredo.
Trata-se, portanto, de uma leitura cativante, com uma premissa interessante e uma história cheia de acção, em que, ainda que alguns aspectos do contexto pudessem ter sido mais desenvolvidos, se destaca a jornada de descoberta e de aceitação dos protagonistas. A mensagem, no final de tudo, é positiva, e é também isso que marca nesta história.

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