quinta-feira, 21 de junho de 2012

O Templo dos Três Criadores (Filipe Cunha e Costa)

Lusomel é um imenso arquipélago, povoado por diferentes raças com diferentes deuses, mas com um trio de divindades comum a todos: os três criadores. A história dos seus deuses está relatada em dois livros sagrados: as Crónicas de Lusomel. Mas há um mito que diz que existe um terceiro volume para essa obra e, quando um elemento de uma raça amaldiçoada surge para revelar que uma grande mudança pode estar iminente, a missão de Denzil e dos seus companheiros torna-se imperiosa. É preciso descobrir se são verdadeiras as referências feitas pelo kriorn e, se assim for, é preciso encontrar o rasto das Crónicas de Xerba. Mas a jornada é longa e as dificuldades são muitas...
Com uma forte componente descritiva e um maior desenvolvimento a nível da caracterização do cenário e dos povos que o habitam, este é um livro que dificilmente será de leitura compulsiva. Desde as primeiras páginas que o leitor é apresentado a uma multiplicidade de lugares e de hierarquias, de raças com costumes e crenças divergentes e a exposição de todos estes elementos causa uma sensação inicial de estranheza. Além disso, esta caracterização sobrepõe-se, muitas vezes, ao desenvolvimento das personagens, o que leva a que, ainda que o sistema seja todo ele bastante interessante, o ritmo da narrativa seja bastante pausado e, numa fase inicial, um pouco distante.
Passada esta estranheza inicial e assimiladas as principais características do mundo apresentado no livro, a leitura torna-se mais cativante, quer pelo maior destaque dado às personagens - ainda que a componente descritiva continue a ser predominante - quer pelas surpresas no rumo dos acontecimentos. Denzil e os seus companheiros tornam-se mais familiares, ainda que as características que mais os definem sejam as suas fragilidades, e as atribulações no rumo da sua aventura proporcionam vários momentos interessantes e algumas situações surpreendentes. A história evolui, portanto, para um ritmo mais fluído que culmina numa fase final particularmente interessante e com uma conclusão que deixa muito em aberto e a curiosidade em saber mais.
Há algumas fragilidades a nível de escrita. Não sendo frequentes ao ponto de perturbar grandemente o ritmo de leitura, evidenciam, ainda assim, alguma distracção a nível de revisão, já que muitas das gralhas e erros de concordância (principalmente no uso do plural majestático) são relativamente fáceis de detectar. Para lá deste aspecto, a escrita é cativante quanto baste, ainda que parte da envolvência se perca nas longas exposições do contexto e do sistema, que talvez funcionassem melhor se apresentadas de forma mais gradual.
A impressão global que fica é a de uma história cativante, com um sistema interessante e vasto em potencial, que perde, é certo, parte da envolvência devido aos excessos descritivos e a algumas distracções de revisão, mas que consegue surpreender, nos melhores momentos, e despertar a curiosidade em saber o que virá depois. Um início interessante, portanto.

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