terça-feira, 9 de novembro de 2010

O Alienista (Machado de Assis)

Por quase obsessiva devoção à ciência, Simão Bacamarte, médico, cria a Casa Verde, destinada a receber no seu interior os loucos de toda a espécie. Mas se, inicialmente, a sua ideia parece trazer apenas vantagens, tudo muda a partir do momento em que o médico decide alargar, com base em teorias que apenas ele conhece, os princípios que definem a loucura. Assim, à medida que os cubículos da Casa Verde se enchem e a população começa a ver nos actos de Simão a possibilidade de outras motivações, o caos instala-se e uma pergunta inevitável acaba por surgir: não será o alienista o verdadeiro alienado?
Bastante breve, mas muitíssimo interessante na forma como, de forma leve e envolvente, se cruzam numa história curiosa os aspectos de uma crítica social, este é um livro que cativa desde o início ao fim, não apenas pelas peculiaridades do comportamento do alienista, mas também pelos sinais patológicos que ele reconhece nos seus pacientes. Isto torna-se particularmente intrigante numa fase mais avançada do livro, quando os sinais de demência se reflectem, na verdade, em comportamentos de coragem, modéstia e generosidade.
Numa história breve, mas que contém rebeliões, pequenos momentos de conspiração, súbitas traições e até uma estranha devoção obsessiva, este livro acaba por caracterizar, de forma simples, mas bastante precisa, o melhor e o pior da natureza humana. E, assim, o final encontrado para esta história, acaba por fazer todo o sentido, já que, não sendo propriamente imprevisível, reflecte, afinal, a dúvida que paira desde o início da história.
Envolvente, de leitura agradável e com uma mensagem muitíssimo interessante, um livro que se lê de um fôlego, mas que prima, acima de tudo, pela pergunta que deixa no fim. Que equilíbrios definem, afinal, as diferenças entre sanidade e loucura?

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