domingo, 28 de novembro de 2010

O Jogador de Râguebi (Óscar Bustamante)

Enquanto os pais, decididos a recuperar a estabilidade do seu casamento, partem numa viagem pelo mundo, António é deixado num colégio interno católico em Inglaterra. Mas Glee Hill, contrariamente ao que o nome parece indicar, não é de todo um lugar feliz, principalmente para um estrangeiro. Sem poder contar com mais que a sua própria vontade, António terá de suportar os ataques e provocações dos colegas, o desprezo de alguns professores, a solidão de estar num lugar onde não pertence e o estranho interesse que um dos professores parece ter por si. Apenas no râguebi parece alcançar algum sucesso. Mas será suficiente para suportar as dificuldades de Glee Hill?
Personagens bastante jovens num cenário fundamentalmente escolar poderiam dar a impressão de que esta fosse uma leitura leve. Mas não é. O ambiente de Glee Hill é opressivo e sombrio, não pelo cenário, mas pelas situações criadas no seu interior. A mentalidade antiquada associada à maioria dos padres, aliada a algum secretismo no que toca às relações entre alunos e realçada pela estranha obsessão que o Father Leven parece demonstrar por António criam uma sensação global de tensão quase constante, tensão que aumenta consideravelmente quando associada aos conflitos que surgem entre os próprios alunos (e que parecem ter como alvo principal António e os seus poucos amigos).
Também a natureza dos próprios amigos de António, caracterizados de uma forma bastante completa através das atitudes que demonstram, parece contribuir para o realçar da sua solidão. Reed, com a sua compulsão para o debate, manipula os sentimentos de amigos e inimigos e, enquanto anuncia que tudo o que faz é para o bem do amigo, reflecte, nos seus actos, um interesse centrado numa vitória que só ele parece vislumbrar. Já Vinski parece ser bem menos egoísta, mas o passado marcou-o com a constante sensação de não estar onde pertence. E, rodeado por amigos que não o entendem por completo, alvo de uma defesa demasiado interessada por parte do seu professor e desprezado pela vasta maioria dos colegas, António simplesmente sobrevive a cada momento.
Uma história de crescimento perante dificuldades, bastante marcante nos seus momentos mais intensos, mas com um ambiente geral obscuro e perturbador. Um livro que faz pensar sobre o que há de pior na natureza humana... mesmo quando se reflecte nas pequenas coisas.

Sem comentários:

Enviar um comentário