terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Irmã (Rosamund Lupton)

Assim que a mãe lhe telefona para a informar do desaparecimento da irmã, Beatrice Hemming viaja para Londres. O seu objectivo é encontrar respostas, tanto para a localização da irmã como para o que lhe terá acontecido. Mas, à medida que a investigação prossegue, as respostas revelam-se como bem diferentes das que Beatrice teria esperado, levando-a a supor que talvez não fosse tão próxima da irmã como julgara. E, quando todos parecem dar como perdido o caso de Tess, Beatrice permanece, ainda assim, decidida a encontrar uma resposta para o desaparecimento da irmã, acabando por se ver envolvida numa situação bastante mais complexa do que julgara.
O primeiro aspecto a destacar desta leitura, e um dos que fazem com que esta se torne viciante desde as primeiras páginas, é a forma que a autora escolheu para contar a sua história. Toda a narrativa é construída como uma muito longa carta de Beatrice para a sua irmã desaparecida. Isto cria, desde logo, um registo pessoal. É fácil criar empatia para com a mulher que conta uma história difícil e que, ao reviver cada momento, recorre também as memórias partilhadas para reflectir a verdadeira proximidade com a irmã de quem e para quem escreve. Além disso, dentro da carta a Tess, constrói-se ainda uma outra narrativa, a de Beatrice a prestar depoimento sobre as descobertas que terá conseguido alcançar. A conjugação destas duas formas define uma narrativa pessoal, com tanto de introspecção sobre as ligações afectivas como de mistério e de crime. É, aliás, esta peculiar forma de narrar as coisas que permite o desenvolvimento de um crescendo de intensidade que culminará num final intenso e surpreendente.
Junta-se a uma escrita expressiva e de uma beleza marcante a força do enredo e das figuras que o protagonizam. A história apresentada neste livro não é apenas a do desaparecimento de Tess, mas sim a de como essas circunstâncias alteram a vida dos que lhe eram próximos. A evolução na personalidade de Beatrice é particularmente marcante, realçando as diferentes entre as duas irmãs ao mesmo tempo que se abre um caminho de luta para uma mulher habituada a procurar, acima de tudo, segurança. No seu percurso de descoberta e no quase desespero com que procura respostas, Beatrice proporciona momentos de grande dramatismo, aprende mais sobre temas tão controversos como o melhoramento genético ao investigar os últimos passos da irmã e, no culminar de um caminho difícil, descobre, para si própria, uma grande lição sobre medo, solidão e memória.
É, talvez, por isso mesmo, que o final funciona tão bem como conclusão da forma invulgar como a narrativa foi construída. Fica no ar uma certa ambiguidade sobre quanto de verdade há na vida das personagens, e quando de uma desesperada ilusão para atenuar o medo. Mas, mais que a perda e a solidão, mais que o crime cuidadosamente ignorado para afastar a dor, é, acima de tudo, de afectos que vive este livro. Do amor fraternal entre Beatrice e Tess, da aprendizagem de uma vida acima dos preconceitos sociais, da capacidade de compreender as razões dos outros mesmo nas acções menos correctas e do impulso para viver a vida verdadeiramente desejada - antes que seja tarde demais.
De leitura compulsiva, com bastante de mistério, mas feito tanto de emoções pessoais como dos enigmas a esclarecer, este livro é tanto a história de Beatrice e das suas relações como a do desaparecimento de Tess. Fascinante, bem escrito e com grandes momentos de emoção, este é um livro que fica na memória.

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