Há algo de sedutor na ideia do vampiro enquanto criatura imortal: beleza eterna, eterna juventude, capacidades para lá do alcance de qualquer humano. Graça, encanto e sombria sensualidade. É o potencial para o romance desse ser intemporal que é, de diferentes formas, explorado nos vários contos que constituem o livro.
O conto de abertura é também um dos meus preferidos desta antologia. Paris after Dark, de Jordan Summers, conta a história de Rachel e de como, ainda assombrada pelo caso que resultou na morte do parceiro, esta se vê na necessidade de interferir no que julga ser um caso de violência doméstica. Mas a situação não é o que parece e o seu adversário não é exactamente humano. Trata-se de um conto envolvente, sombrio, com um mistério cativante, bons momentos de tensão e uma certa medida de atracção. É também bastante interessante a visão da autora relativamente ao vampirismo e Gabriel é uma figura bastante intrigante.
Segue-se Coven of Mercy, de Deborah Cooke, a história de uma luta sem tréguas contra o cancro e de uma paciente que recebe a visita de um desconhecido estranhamente familiar. Interessante a forma como os motivos para lutar que alimentam o percurso da protagonista se cruzam com as normas usadas pelos vampiros para a escolha das suas presas. Falta, principalmente na fase inicial, um pouco mais de energia, mas a mensagem é forte e a história é cativante.
Le Cirque de la Nuit, de Karen McInerney, tem como protagonista uma trapezista insatisfeita com as atitudes do seu parceiro e que decide investigar as possibilidades de integração no lendário Cirque de la Nuit, sem saber, contudo, que há uma condição especial inerente aos membros dessa companhia. Com um início bastante descritivo, a linha base da história é bastante interessante, mas os aspectos mais importantes acabam por ser abordados de forma demasiado breve, deixando a sensação de faltar alguma coisa.
A chegada de uma mulher estranha com uma missão a cumprir é a base de Perdition, um conto de Caitlin Kittredge onde o peso das memórias define o rumo da protagonista e da sua relação com um amante invulgar. O início é um pouco confuso, devido às oscilações entre presente e memória, mas a história evolui de forma bastante interessante, com uma boa medida de mistério e uma abordagem mais clássica à figura do vampiro (e seu potencial malévolo), que culminará num final marcante.
Deliver Us From Evil, de Dina James, apresenta um vampiro não muito satisfeito com a mortalidade e a forma como este encontra refúgio na companhia de uma vidente, apenas para descobrir que essa mulher exerce sobre si uma estranha influência. Ideia intrigante, caracterização bastante cativante do vampiro (com uma personalidade em que a hesitação alterna com algo de arrogância), um conto envolvente, mas algo surreal na relação dos protagonistas. Interessante, ainda assim, a relação entre anjos e vampiros e a história (ainda que algo apressada) de Marcos.
Segue-se Blood and Thyme, de Camille Bacon-Smith. A história é a do dono de uma importante e invulgar empresa de catering e da sua busca por uma chef adequada. Mas nem ela é só uma empregada nem ele é apenas um homem. Interessante pelo ambiente invulgar, ainda que com um ritmo algo pausado e inicialmente confuso, um conto que cativa principalmente pela forma como, através da alternância de pontos de vista, a autora apresenta a ligação que cresce entre ambos os protagonistas, dando à história uma envolvência progressivamente maior.
Into the Mist for Ever, de Rosemary Laurey, tem início num dia de caça em que dois oficiais romanos se deparam com uma adversária particularmente dotada, forte e misteriosa. E se tanto a caçadora como o cirurgião romano têm conhecimentos na arte da cura, há um deles cujas capacidades transcendem a natureza humana. Interessante o ambiente e a época histórica escolhidas, como base para uma história onde a relação entre os protagonistas evolui gradualmente (ainda que algo centrada na atracção física), resultando num conto envolvente, agradável e com um final surpreendente, ainda que algo apressado.
Por último, Blood Feud, de Patti O'Shea, conta a história de como, após uma série de mortes entre os vampiros do seu clã, Isobel é enviada para investigar. Mas o principal suspeito é um demónio e, por isso, também estes enviam alguém. O problema é que esse alguém é o antigo amante de Isobel... Misterioso, envolvente desde o início, com uma boa medida de sensualidade, o mais interessante neste conto é, ainda assim, a interacção entre vampiros e demónios. Também a alternância de pontos de vista permite conhecer a fundo as emoções dos protagonistas, tornando mais cativante a relação entre o passado de ambos. Pena o final um pouco brusco.
Até agora uma leitura bastante agradável, sendo o primeiro conto particularmente cativante, mas onde todos eles têm alguns pontos de interesse, esta antologia é também uma boa forma de descobrir novas autoras. Mas, porque a opinião já vai longa, o comentário aos contos deste livro continuará num futuro post.
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