quinta-feira, 9 de junho de 2011

Memórias de um Morto (Hjalmar Bergman)

A honra de um nome e o percurso de uma família marcada por um fracasso que passa de geração em geração. É esta a herança de Jan Arnberg e o legado do qual este precisa, imperativamente, de fugir. E, traçando a linha familiar até um passado diferente, numa história de ambições e, principalmente de derrotas, é do caminho, da busca e, principalmente, das falhas de Jan que é feito o traçado desta narrativa.
Por todos os motivos e mais alguns, importa dizer, em primeiro lugar, que a leitura desta obra é tudo menos fácil. A escrita é densa, o enredo percorre uma linha temporal capaz de abranger múltiplas vidas e por diversas vezes, nada do que está a acontecer é aquilo que aparenta. Além disso, ao entrar na narrativa através de uma definição bastante completa da família Arnberg, é, na verdade, fácil antever a complexidade que marcará a essência do texto, quer pela multiplicidade de acontecimentos, quer pela forma como as marcas de cada situação se manifestam na vida e na natureza das suas personagens.
Trata-se, portanto, de um livro complexo, de uma leitura que exige concentração total. E, contudo, a partir do momento em que a essência da narrativa é assimilada, há algo de estranhamente cativante a insinuar-se na memória do leitor. Talvez a constante fatalidade que parece ser, de certa forma, a verdadeira protagonista desta obra onde, por mais ambiciosos que sejam os projectos e independentemente dos escrúpulos (ou falta de) de quem os realiza, a verdadeira presença, opressiva, sombria e inevitável é, essencialmente, a do fracasso. Há, pois, uma certa familiaridade a surgir na vida algo errante, sempre vencida, que o narrador nos apresenta, já que, em maior ou menor grau, a derrota é algo de presente na vida de cada um.
Ainda uma menção ao toque de surreal que surge com particular intensidade na fase final do livro. Aí, onde a natureza do ambiente das personagens parece já ser conhecida, há algo de maior e de mais soturno que surge e que surpreende, para encerrar a narrativa de forma marcante e invulgar.
Denso e complexo, este é um livro que exige muito ao seu leitor, não apenas no acompanhamento do enredo e das suas múltiplas personagens, mas principalmente a nível emocional. Mas é precisamente a presença do fracasso sem redenção, essa sombra de derrota absoluta que inevitavelmente se insinua, mesmo nos breves laivos de esperança, que fica, finalmente, na memória.

1 comentário:

  1. Já tinha visto este livro algures na Feira do Livro do Porto. Intrigou-me...deve ser uma boa leitura.

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