A honra de um nome e o percurso de uma família marcada por um fracasso que passa de geração em geração. É esta a herança de Jan Arnberg e o legado do qual este precisa, imperativamente, de fugir. E, traçando a linha familiar até um passado diferente, numa história de ambições e, principalmente de derrotas, é do caminho, da busca e, principalmente, das falhas de Jan que é feito o traçado desta narrativa.
Por todos os motivos e mais alguns, importa dizer, em primeiro lugar, que a leitura desta obra é tudo menos fácil. A escrita é densa, o enredo percorre uma linha temporal capaz de abranger múltiplas vidas e por diversas vezes, nada do que está a acontecer é aquilo que aparenta. Além disso, ao entrar na narrativa através de uma definição bastante completa da família Arnberg, é, na verdade, fácil antever a complexidade que marcará a essência do texto, quer pela multiplicidade de acontecimentos, quer pela forma como as marcas de cada situação se manifestam na vida e na natureza das suas personagens.
Trata-se, portanto, de um livro complexo, de uma leitura que exige concentração total. E, contudo, a partir do momento em que a essência da narrativa é assimilada, há algo de estranhamente cativante a insinuar-se na memória do leitor. Talvez a constante fatalidade que parece ser, de certa forma, a verdadeira protagonista desta obra onde, por mais ambiciosos que sejam os projectos e independentemente dos escrúpulos (ou falta de) de quem os realiza, a verdadeira presença, opressiva, sombria e inevitável é, essencialmente, a do fracasso. Há, pois, uma certa familiaridade a surgir na vida algo errante, sempre vencida, que o narrador nos apresenta, já que, em maior ou menor grau, a derrota é algo de presente na vida de cada um.
Ainda uma menção ao toque de surreal que surge com particular intensidade na fase final do livro. Aí, onde a natureza do ambiente das personagens parece já ser conhecida, há algo de maior e de mais soturno que surge e que surpreende, para encerrar a narrativa de forma marcante e invulgar.
Denso e complexo, este é um livro que exige muito ao seu leitor, não apenas no acompanhamento do enredo e das suas múltiplas personagens, mas principalmente a nível emocional. Mas é precisamente a presença do fracasso sem redenção, essa sombra de derrota absoluta que inevitavelmente se insinua, mesmo nos breves laivos de esperança, que fica, finalmente, na memória.
Já tinha visto este livro algures na Feira do Livro do Porto. Intrigou-me...deve ser uma boa leitura.
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