sexta-feira, 24 de junho de 2011

O Parque de Mansfield (Jane Austen)

Numa tentativa da atenuar as dificuldades de um familiar, a família Bertram recebe Fanny Price na sua casa em Mansfield. Aí, o que se espera de Fanny é um comportamento exemplar, mas que fique sempre abaixo do nível das primas, e uma submissão sem reservas à vontade familiar. Mas se, calada e insegura, Fanny dificilmente pareceria capaz de chamar as atenções sobre si, a vida social dos Bertram acaba por despertar interesses nos irmãos Crawford.
É inevitável estabelecer uma comparação entre a protagonista deste livro e a de Orgulho e Preconceito. Enquanto Elizabeth Bennett marca pela determinação, bem como pela aprendizagem através das mudanças, o que transparece de Fanny Price é, acima de tudo, uma tímida insegurança que a torna, por vezes, demasiado discreta. Crescendo à sombra das primas, numa família que, com a notável excepção de Edmundo, tende a ver a sua presença como simplesmente tolerada, Fanny acaba por se revelar, essencialmente, uma observadora do mundo em seu redor e, também por isso, uma das figuras menos interessantes do livro.
Mas se, por si só, a natureza de Fanny não é particularmente cativante, é na relação com esta que se criam empatias e aversões para com outros intervenientes na narrativa. Mrs. Norris, em particular, com a sua postura mesquinha e algo hipócrita, acaba por criar uma certa empatia para com a protagonista, ao mesmo tempo que, em contraste com a sobriedade de Edmundo, a arrogância das irmãs Bertram e a severidade do chefe de família, criam uma visão bastante completa e precisa do que seriam as normas da sociedade na época.
É, na verdade, nessa caracterização da sociedade que se encontra a grande força deste livro. Mais que na história da protagonista e de um amor que, por vezes, se desvanece na timidez natural de Fanny e nas suas dúvidas essenciais, é o retrato social, onde os preconceitos e os escândalos se definem de forma particularmente clara, que realmente cativa ao longo desta leitura. E é por isso que, ainda que não tenha a força cativante de, por exemplo, Orgulho e Preconceito, não deixa de haver muito de interessante neste livro. Gostei.

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