Algures em Itália, um homem conhece uma mulher. A sua presença quebra a rotina do seu trabalho e da leitura e apresenta-lhe novamente as possibilidades do amor. Mas há na vida aquela sombra de um passado distante e, com a descoberta dos sentimentos, despertam também as memórias, os fantasmas de um tempo que passou, mas que deixou marcas impossíveis de apagar.
Há uma nostalgia que se insinua desde as primeiras páginas deste livro e que, à medida que o protagonista mergulha no seu passado, se torna, em toda a sua força, numa clara reflexão sobre o passado e a memória. Com um tom de divagação, introspectivo e, por vezes, algo poético, o autor constrói, mais que uma história, um retrato da alma do seu protagonista, com todas as cicatrizes associadas ao passado.
O que começa por parecer um simples devaneio, um percurso de gestos e manias quotidianas (e aqui impõe-se referir a interessante relação do protagonista com os livros), ganha intensidade à medida que, enquanto o amor se impõe, também a memória parece caminhar na direcção de algo doloroso, mais sombrio e, talvez, por isso mesmo inesquecível. Assim, e através de uma divagação entre presente e memória, voltando ao passado em fragmentos - como que à medida que eles surgem na memória do protagonista! - o autor constrói uma linha de emoções que, mais até que os acontecimentos físicos e reais, fica na memória, pela força dos sentimentos que evoca.
Um livro breve, mas de grande força emotiva, este Três Cavalos é também, de certa forma, uma reflexão sobre a forma como aquilo que cada um vive define, no fim de contas, a pessoa em que acaba por se tornar. Evocando sentimentos que vão da suave melancolia ao medo absoluto, é a intensidade das memórias que marca ao longo desta leitura. E é isso mesmo que a torna tão fascinante.
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