Em Barcarrota, no verão de 1556, o médico cripto-judeu Francisco de Penharanda leva uma vida pacata. Contudo, algumas sombras toldam a sua vida (e a sua fé). Numa época em que as trevas da inquisição se adensam, o médico tem de rezar em clandestinidade, contando com a cumplicidade dos vizinhos e até do pároco local, frei Miguel de Santa Cruz, um bizarro clérigo que garante conversar com o diabo. Mas uma sombra ainda mais espessa o macera. A sua mulher, dona Guiomar, padece de uma doença mental degenerativa que lhe abrevia os momentos de lucidez. Desenganado já da sua inútil medicina, Francisco de Penharanda volta-se para terapias cada vez mais estranhas e interditas. Para tal conta com o auxílio de um antigo discípulo, o português Fernão Brandão, médico em Olivença. É esta importante personagem quem lhe fornece os livros esotéricos (de quiromancia, de astrologia, de exorcismo) com que o velho médico tenta, em desespero, sarar a mulher. Porém, de mês para mês, o ambiente na vila piora. Frei Miguel de Santa Cruz é substituído por Frei Ruiz do Monte Sinai, um frade que oscila entre uma indisfarçável simpatia e um atroz calculismo, sempre enquadrados por uma cultura enciclopédica. No Outono de 1556, a vila muda drasticamente. O cerco aperta-se sobre o médico. Num momento de lucidez, dona Guiomar apercebe-se do risco que o marido corre. A meio da noite abandona a sua casa e suicida-se nas profundezas da ribeira de Alcarrache, perto da vila, onde a família tem um moinho e onde há anos haviam enterrado os objectos rituais da sua fé judaica. A morte de dona Guiomar liberta Francisco de Penharanda.
Sérgio Luís de Carvalho nasceu em Lisboa, em 1959. Licenciado em História e mestre em Idade Média, a sua formação reflecte-se numa obra em que a vertente histórica é, sem dúvida, central. Em 1989 recebeu o Prémio Literário Ferreira de Castro. Foi finalista ao Prémio Jean Monnet de Literatura Europeia (França) em 2004 e, no ano seguinte, fez parte dos finalistas candidatos ao Prémio Amphi de Literatura Europeia (França). Alguns dos seus romances estão traduzidos em França e em Espanha. Anno Domini 1348 marcou a sua estreia enquanto escritor com uma voz própria na literatura portuguesa. Seguiram-se As Horas de Monsaraz, El-Rei Pastor, Os Rios da Babilónia, Retrato de S. Jerónimo no seu Estúdio, Os Peregrinos Sem Fé, O Retábulo de Genebra e O Destino do Capitão Blanc. O Segredo de Barcarrota é o seu romance mais recente
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