No silêncio desértico de uma fazenda remota, há uma mulher aprisionada na sua própria loucura, divagando entre uma vida amargurada e os labirintos de uma imaginação sombria. Magda está decidida a não cair no esquecimento, mas o pai ignora-a e a relação com os criados oscila entre a opressão e o desprezo. E, quando alguma novidade ameaça surgir na sua vida vazia, Magda só vê uma possibilidade. Romper. Quebrar. Matar.
É, acima de tudo, de amargura que se constrói esta narrativa. Contada pela voz de Magda, num tom profundamente soturno, mas de uma intensidade imensa e pessoal, é de emoções sombrias e divagações entre o real e o delirante que a linha deste romance se forma. Tragédia sem redenção, cada fragmento é uma parte da mente da protagonista, percorrendo amplitudes entre uma nostalgia passiva e uma fúria de violência incontrolável. Nos momentos mais introspectivos, marca a reflexão resignada. "Sou uma viúva negra de luto por tudo aquilo que nunca me deixaram fazer." Quando é a tensão a tomar posse, desperta a cólera, a violência, a acção impulsionada por motivos que talvez não sejam visíveis, mas que evidentemente não podem ser evitados. Os grandes momentos são pintados a sangue e morte... e o mais cativante em tudo isto é a forma como o autor consegue plantar a dúvida entre o que é um acontecimento real e as imagens sinistras nos labirintos mentais da protagonista.
Não é, portanto, uma leitura fácil. Centrado na vida e na loucura da protagonista, o que este livro apresenta é uma visão clara e complexa dos seus demónios interiores. Pouco há de sentimentos que não seja negro e irremissível. Poucos acontecimentos há que não prenunciem morte e devastação. E, ainda assim, mesmo quando tudo é sombrio nesta narrativa, há algo na figura solitária de uma mulher que nunca teve quem a amasse (nem ela mesma) que desperta no leitor um certo nível de empatia, principalmente nos momentos mais serenos e melancólicos.
Negro, por vezes opressivo, mas ainda assim estranhamente envolvente, este é um livro que marca precisamente pela intensidade colocada em sentimentos profundamente negros, cativando mesmo nos momentos mais revoltantes. Duro, trágico, sombrio... e muito, muito bom.
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