domingo, 25 de março de 2012

A Batalha do Apocalipse (Eduardo Spohr)

E ao sétimo dia, Deus descansou. Mas o repouso do deus parece estar perto do fim. O sétimo dia aproxima-se da sua conclusão e com ela virá o Apocalipse que destruirá o mundo e abrirá portas ao despertar do Altíssimo. Mas o fim do tempos não é apenas entre o deus e a humanidade: ao longo de todo o sétimo dia, foi o Arcanjo Miguel que reinou e, ante a sua aversão à humanidade, mais que uma rebelião surgiu para o contestar. Em vão. Agora, contudo, no despertar do Apocalipse, as forças em conflito parecem ter ganho novas capacidades e, entre os apoiantes do Príncipe Celeste, os demónios da Estrela da Manhã e os defensores da humanidade, liderados pelo Arcanjo Gabriel, a resolução do derradeiro conflito parece estar nas mãos de uma dupla que sobreviveu à passagem dos tempos: Ablon, Primeiro General e anjo renegado, e Shamira, feiticeira de En-dor.
Desenvolvida com grande pormenor e com uma abordagem peculiar em muitos aspectos, é provavelmente a complexidade da mitologia explorada neste livro o grande ponto forte, bem como o foco central, deste livro. Ao longo das cerca de 600 páginas deste livro, o autor aborda os passos mais conhecidos na narrativa bíblica, conferindo-lhes uma perspectiva completamente diferente, ao mesmo tempo que desenvolve, com grande detalhe, os meandros e os elos em conflito da hierarquia celestial. Isto faz com que haja muito a descrever ao longo do livro e confere-lhe, inevitavelmente, um ritmo pausado, sendo particularmente evidente na fase inicial em que as explicações e as descrições (pontos muito presentes ao longo de todo o livro) são particularmente dominantes.
Não se trata, portanto, de uma obra de leitura compulsiva. Apesar disso, há muito de interessante para descobrir. Sendo baseado num conjunto de facções em conflito, as personagens enquanto entidades individuais, têm, por vezes, um desenvolvimento secundário ao do conflito global, mas são elas que, nos grandes momentos, criam os momentos mais intensos e as situações mais emotivas. Afinal, apesar das vastas batalhas e da ascensão e queda de civilizações, muitas das grandes mudanças acabam por envolver alguma intervenção dos dois protagonistas e, por isso, Shamira e Ablon acabam por se tornar gradualmente familiares, despertando, aos poucos, a simpatia do leitor que os acompanha.
Apesar do ritmo lento e do foco nos desenvolvimentos mais globais dos conflitos, nem só dos protagonistas vive o lado emotivo do enredo. As intervenções de personagens como Amael, Sieme e, em particular, Gabriel, criam também bons momentos de empatia, complementando de forma cativante uma história que, por vezes, se distancia dos indivíduos para se centrar nos acontecimentos.
Complexo no desenvolvimento do sistema que apresenta, cativante pela abordagem peculiar a alguns mitos bastante familiares e crescendo em intensidade com o evoluir da narrativa que culmina num final particularmente forte, a impressão que fica deste A Batalha do Apocalipse é, em suma, bastante positiva. Com muitos pormenores para descobrir no sistema que suporta a narrativa, um livro que se lê a ritmo lento, mas que nunca deixa de ser envolvente. Gostei de ler.

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