quinta-feira, 29 de março de 2012

Obsessão (Sandra Brown)

Mais que uma escapatória para a morte, o seu transplante de coração é, para a actriz Cat Delaney, uma nova oportunidade de fazer da vida o que acha que realmente vale a pena. Assim, Cat troca o seu trabalho pela oportunidade de conduzir um programa de televisão a promover a adopção de crianças com necessidades especiais. O problema é que a nova vida não começa com a mudança e, enquanto Cat se aplica a fundo no seu projecto, há quem a tenha sob um meticuloso escrutínio. É que, de todos os possíveis dadores que morreram no dia em que Cat foi transplantada, há um que não suporta a ideia de que o coração da pessoa que amou continue a bater, estando ela morta. E a única forma de resolver esse problema é fazer com que o coração pare... independentemente do corpo que o contém.
Feito em partes iguais de romance e de mistério, este é um livro que cativa principalmente por esta segunda componente. Com um início algo confuso, em que os potenciais dadores são apresentados nos seus últimos momentos, a história só se centra em Cat e na sua nova vida numa fase um pouco mais avançada do enredo. Assim, é de forma muito gradual que a linha da narrativa se vai definindo, com os potenciais suspeitos a serem apresentados antes mesmo dos crimes e com um rumo de acontecimentos em que quase todos têm motivos para o cometer. Isto é desenvolvido em capítulos relativamente curtos, em que cada acontecimento é descrito de forma bastante directa e sem grandes elaborações, criando bons momentos de tensão que contribuem para manter viva a curiosidade.
No que toca à parte romântica do enredo, há momentos bastante bons, ainda que, numa fase inicial, seja difícil criar empatia para com algumas das personagens. Alex Pierce, em particular, surge como uma figura bastante detestável, ao primeiro impacto, vindo a revelar mais das suas complexidades apenas mais para o final da narrativa. Também Cat tem os seus momentos bons, principalmente a nível da construção do passado, e as suas situações mais... estranhas, principalmente na interacção que se cria entre ela e Alex.
Ainda de referir algumas questões interessantes que surgem ao longo da narrativa e que, apesar de não serem abordadas a grande profundidade, tornam a história um pouco mais complexa. Elementos como o sistema de famílias de acolhimento, as teorias sobre a memória celular associada aos transplantes de coração e até, numa abordagem diferente, as rotinas da vida de um escritor, servem também para proporcionar momentos interessantes, ao mesmo tempo que definem de forma mais completa a vida das personagens.
Trata-se, portanto, e apesar de alguns momentos algo forçados, de uma história cativante, com uma escrita agradável e em que as personagens que inicialmente surgem como pouco empáticas acabam por revelar o melhor das suas características redentoras. Gostei.

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