sexta-feira, 2 de março de 2012

Nova Era (Pedro Belo Clara)

Do mundo e do que ele se tornou. Da necessidade de despertar consciências para o cenário da actualidade, de mudar mentalidades, de procurar sempre um caminho melhor. Do que falha nos sistemas actuais, quer a nível colectivo, quer a nível da posição do indivíduo perante o mundo, e do que pode ser feito para melhorar neste aspecto. São estes os elementos que definem a linha temática deste conjunto de poemas, onde, num registo que varia entre uma simplicidade directa e uma visão bastante mais elaborada do presente e dos possíveis futuros, se reflecte sobre o estado do mundo e o papel de cada um no cenário actual.
Sendo, à partida, um livro em que a poesia pretende funcionar como reflexão sobre o mundo e a sociedade, surpreende, em primeiro lugar, a visão bastante pessoal que transparece em vários dos poemas. Não é de mudança através da acção global que se trata, mas de uma percepção mais clara ao nível de cada um e, do desânimo perante um mundo de dificuldades à esperança diante de um caminho para melhorar, é no espectro emocional percorrido pela figura apresentada como sujeito poético, ou nas figuras a quem este se dirige, que se encontra o lado interventivo desta poesia. A percepção do que falha no mundo, através daquele que lhe vive as dificuldades, é representada de forma simples, com uma boa componente de emoção, mas sem perder precisão por isso.
Se, no que toca à temática, há uma relativa uniformidade, surgindo a diversidade nas abordagens a esse mesmo tema central, já na estrutura há algumas variações, sendo evidente, nalguns dos poemas, uma certa limitação imposta ao optar pela rima. Não há, ainda assim, grande perda de fluidez devido a esta escolha e, se é certo que são os poemas compostos num estilo mais livre aqueles que mais marcam, também é verdade que há em todos, independentemente das opções estruturais, algo de interessante a reter.
Com uma forte unidade temática, mas com evidentes variações quer a nível estrutural, quer a nível da abordagem ao tema, a impressão global que fica deste livro é, no fim de contas, bastante positiva. Há, é certo, alguns poemas que se destacam pela intensidade das imagens ou pela força da mensagem, evidenciando-se ante outros que não cativam da mesma forma. Há, ainda assim, uma unidade evidente na globalidade do livro e também isto contribui para a mensagem que se pretende passar. E é também isso que faz deste livro uma boa leitura.

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