«O casamento. Do meu casamento não tenho grande coisa a dizer. De outra maneira, mas era uma noiva, pois claro. Qual branco? Lá não era assim. Éramos simples, não tínhamos direito a essas coisas que há hoje. Os vestidos a arrojar pelo chão, esse carnaval todo. Nem eu me via metida nessas andanças. Naquele tempo, era tudo simples.»
Assim começa a narrativa de vida de uma mulher vulgar, mas única, guiando-nos pela pequena História portuguesa do século XX, através das memórias colectivas acerca do interior rural e da migração para uma capital que, aos poucos, alargou os seus limites para espaços menos urbanizados, como o bairro de Benfica.
Do discurso intimista e reflexivo da protagonista, constrói-se um olhar feminino sobre os universos conjugal, familiar e do trabalho, recorrendo também a publicações da época e, sobretudo, aos saberes de figuras reais com quem se cruzou.
António Manuel Marques nasceu em Lisboa em 1961. É docente do ensino superior e tem investigado e publicado nos domínios da sexualidade, saúde e psicologia social do género.
Ao dar início à escrita literária, continua a explorar os temas em que tem investido, fazendo uso da liberdade estilística e narrativa que a ordem académica não aconselha ou não permite.
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