quarta-feira, 21 de março de 2012

Isoforma (Rita Dinis)

Um ano em Paris, sem conhecimentos prévios e com poucos conhecimentos da língua francesa, poderia ser considerado como desafio suficiente para a introvertida Maria, estudante de medicina. Mas as dificuldades de assistir a aulas e fazer exames num idioma que lhe é tudo menos familiar tornam-se menores quando Maria testemunha uma situação estranha que, involuntariamente, lhe revela a existência de um mundo para lá do que conhece. É que, quando os seus caminhos se cruzam com os do misterioso David Henshaw, Maria acaba por compreender que aquilo que viu não foi uma ilusão e que o conhecimento da existência de outra espécie poderá comprometer a sua sobrevivência...
Tendo os vampiros como ponto central e uma protagonista que se interessa demasiado por um deles, é curioso ver que o que, por vezes, parece ser uma insinuação de romance, acaba por não ser, de forma alguma, o foco da narrativa. Da interacção entre Maria e David, que é, de facto, a essência da história, surge, mais que uma ligação romântica definida, uma ambígua mistura de afecto e empatia, mas também uma percepção bastante clara de que são seres de mundos diferentes. 
Neste aspecto, torna-se particularmente interessante a forma como a autora conjuga as características predatórias do vampiro clássico com a ideia de uma sociedade feita de regras inflexíveis e ainda com o melhor do que define o vampiro humanizado: a capacidade de empatia e os dilemas interiores. Os vampiros deste livro são, de facto, predadores e isto vem criar um interessante contraste para a estranha relação que, ao longo da história, se cria entre vampiro e humana. Relação que não é romance, pelo menos para já, mas que também está longe da típica interacção entre um predador e a sua presa.
Sendo este o primeiro volume de uma série, é natural que fiquem algumas perguntas sem resposta. Quer a nível do sistema da sociedade vampírica, que é desenvolvido apenas a partir do ponto de vista de Maria, mas que parece ter potencial para muito mais, quer na forma como a situação entre os protagonistas se conclui, tudo indica que esta história é apenas o início de uma aventura com muito para explorar. Apesar disso, os acontecimentos deste livro ficam, no seu essencial, resolvidos. Ainda que haja um seguimento para a história, a história deste livro funciona bem por si só.
Não há propriamente uma fuga às características próprias dos vampiros, nas abordagens mais familiares ao tema. Há, sim, uma conjugação do melhor que há nas diferentes abordagens, resultando num conjunto de personagens cativantes que dão forma a uma história envolvente e com um bom equilíbrio de acção e emoção. Gostei.

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