Breves episódios, contidos em algumas poucas frases ou, no máximo, algumas páginas. Devaneios, ou simples situações - que, por vezes, não são assim tão simples - que se definem pelo momento que descrevem, mas que ocasionalmente se ligam com outros momentos criando um sentido de unidade, dão forma a este conjunto de pequenos contos onde, com um toque de surreal e uma multiplicidade de protagonistas, dos quais o mais constante será tal vez o tal Whisky Duplo do subtítulo, poucos parágrafos bastam para contar uma história completa.
Um dos pontos mais interessantes destes Fúteis Madrigais é a forma como, em textos breves e onde tanto a descrição como a narração dos acontecimentos e sucinta e sem grandes elaborações, nunca fica a impressão de que mais haveria a dizer. Cada episódio define-se por si próprio como uma narrativa completa, tanto pela forma como cada situação é contada, quase que ao ritmo dos pensamentos do seu protagonista, como pela aparente simplicidade dos episódios que são apresentados, sempre com a precisão de uma realidade crua, nas coisas boas como nas más. Acrescente-se a isto as leves ligações que existem entre os vários contos e o resultado é um conjunto de textos que funcionam independentemente, mas que se juntam numa forma global que é mais complexa que a simples soma das suas partes.
Também a nível de temas há muito de interessante e a diversidade de emoções percorridas nos diferentes textos serve também para criar uma visão bastante ampla da realidade. Cada personagem é único nas suas peculiaridades, mas cada um pertence a esse vasto e complexo conjunto que é a humanidade. Todos, desde o Jonny que morreu de amor ao cego que não queria que sentissem pena dele. E, de todas estas diferentes personagens resulta também uma diversidade de emoções: algumas das situações descritas são revoltantes, algumas cruéis, outras enternecedoras, outras ainda despertam uma vaga tristeza. De bons e de maus sentimentos é feito este livro. Como muitas coisas na vida.
Muitas das histórias são breves. As poucas que não o são deixam curiosidade em ver mais do trabalho deste autor em registos mais extensos. A impressão final é, em suma, muito positiva. Escritos de forma cativante, percorrendo um amplo espectro emocional e com uma visão bastante precisa da realidade, há muito da vida e do mundo nestes Fúteis Madrigais. E é isso o que mais marca neste livro.
Muito obrigado pela sua crítica, e também pelas suas simpáticas palavras, Carla.
ResponderEliminarSó não sei se merecedor...
Um grande abraço, e até um dia destes.
Rui Mateus