sábado, 27 de agosto de 2011

Cassie Draws the Universe (P.S. Baber)

Invulgarmente inteligente, mas quase totalmente fechada ao mundo em seu redor, Cassie Harper tem da vida e dos outros uma visão muito própria e definida - e não tem medo de o dizer. Mas a entrada em cena de um novo professor e da filha deste, que insiste a todo o custo em ser sua amiga, irão mudar a postura e o rumo da vida de Cassie. Para o melhor e para o pior.
Há neste livro uma envolvência estranhamente fascinante, quer pelas personagens quer pelo rumo de uma narrativa que é cheia de surpresas. Cassie não é propriamente a personagem que despertaria simpatia. Brusca, fechada, por vezes conflituosa e com momentos de uma certa arrogância, há alturas em que se torna difícil de entender. Contudo, e à medida que a sua história se desenvolve, há momentos em que é impossível não sentir com ela, principalmente a partir do momento em que uma distância calculada acaba por se revelar simplesmente numa densa e amarga solidão. Solidão que é, afinal, irrevogável, mesmo nos raros momentos em que parece passível de ser quebrada.
Surge, pois, uma evolução no tom narrativo, de um ambiente que começa por ser o típico cenário escolar (com os previsíveis conflitos adolescentes, mas nada que pareça preocupante) para uma situação global progressivamente mais negra, onde acontecimentos progressivamente mais dolorosos culminam numa mudança devastadora. E se Cassie é o centro deste universo, também os Cole têm um papel determinante a desempenhar, tanto nas mudanças positivas como na aproximação da tragédia que se vai insinuando com o aproximar da fase final.
Ainda a referir um ponto particularmente marcante nos paralelismos com o Titus Andronicus de Shakespeare. Se a discussão da peça em ambiente de aula é, por si só, um momento interessante, a forma como esta se relaciona com os acontecimentos da fase final é algo de poderoso - ainda que também de perturbador.
Escrito de forma envolvente, com uma mistura sempre interessante de ternura e tragédia, esperança e ódio, amizade e vingança, uma história que, apesar de um ou outro momento que poderiam ter sido mais explorados (principalmente nas consequências dos grandes actos) fica na memória quer pelo final devastador, quer pelos muitos temas que chamam à reflexão. Muito bom.

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