terça-feira, 2 de agosto de 2011

O Vampiro Armand (Anne Rice)

Andrei. Amadeo. Armand. Três nomes para uma mesma existência, um percurso de séculos de experiência, amor e angústia. Eternamente parado no aspecto físico de um jovem de dezassete anos, os seus iguais descreveram a sua face como a de um anjo de Botticelli. Enquanto mortal, viveu e amou sob a protecção do lendário Marius. Ao longo do seu percurso vampírico, conheceu os mais antigos da sua espécie. E quando David Talbot lhe pede que relate a sua história, é a memória do passado que justifica muitas das suas acções...
Para quem acompanha os vampiros de Anne Rice desde Entrevista com o Vampiro, é inevitável estabelecer comparações entre este livro e os anteriores. Até agora, o centro da narrativa era Lestat e era a sua própria voz a relatar os acontecimentos. Neste livro, é Armand que revive à sua história e as diferenças são evidentes. O que em Lestat era fúria, entusiasmo, dramatismo, é, em Armand, serenidade, distância, resignação. Transformado aos dezassete anos, a existência de séculos fê-lo crescer, mas, nos momentos menos racionais, a mentalidade de um eterno adolescente tende a manifestar-se, sendo isto particularmente notório no ciúme com que fala de Lestat e de como este mudou a sua vida.
Temos, pois, um protagonista que oscila entre a mentalidade de uma criança e a de alguém mais velho que a eternidade. Mas nem só o crescimento de Armand o define, mas também a sua fé. Marcado por toda uma série de experiências associadas ao divino, tanto enquanto humano como enquanto vampiro, há na explicação da vida de Armand toda uma justificação para um acto que, remanescente de Memnoch, o Demónio, apenas aqui é explicado em plenitude. E, mais que os motivos, a nova fase de vida iniciada neste ponto acaba por contrastar com todo o percurso anterior, criando para esta narrativa uma fase final particularmente marcante.
Mantêm-se, apesar da mudança de narrador, algumas das características dos livros anteriores da autora. O ritmo pausado, a componente introspectiva e filosófica que se destaca na posição das personagens perante a vida, a morte e a eternidade, e peculiar sentido de devoção e amor do grupo de vampiros que, ao longo de tantos livros, se tornou já familiar, são parte do que torna estes livros interessantes, mesmo nos seus momentos mais lentos.
Com uma abordagem diferente a um mundo já conhecido, Rice apresenta aqui uma interessante visão do divino e da fé (ou falta de). Mas, mais que isso e acima de tudo, é da estranha forma de amor destes tão humanos imortais que nascem os mais belos momentos deste livro. E é isso que torna marcante esta leitura.

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