Baseado na história de um antigo correio de droga português, este livro apresenta Marco, homem cansado de trabalhar incessantemente para chegar ao fim do mês com um salário miserável, decidindo, por isso, procurar uma via mais fácil e lucrativa. Assim começa a sua aventura no mundo do tráfico de droga, da ascensão ao sucesso às perdas sucessivas quando tudo começa a correr mal.
Directo e sem dramatismos, o que primeiro impressiona neste livro é o tom quase distante com que, na primeira pessoa, a história de Marco é apresentada. Motivos e ambições são apresentadas com muito poucos momentos de sentimentalismo e, apesar da complexidade do tema, não há um grande ênfase na transmissão de qualquer mensagem moral. Na verdade, a impressão que fica é a de um narrador que tem uma história para contar e que, sem grandes elaborações, apresenta, no tom de quem olha para trás sem quaisquer arrependimentos ou desejos de regressar, os passos do caminho que percorreu.
Não há, portanto, nenhuma tentativa transparente de transmitir qualquer lição de moral. É a história o que o livro apresenta, com todas as ambições e fracassos, com as escolhas certas e as escolhas erradas. A lição a tirar está nas acções e é aí que o leitor a pode procurar.
Estranha-se, portanto, esta distância no tom da narrativa, principalmente numa fase inicial. Ainda assim, há neste tom directo e desapaixonado uma maior facilidade em assimilar a muita informação apresentada sobre os meandros do tráfico de droga, já que, tanto nas suas próprias experiências como nas descrições mais gerais dos métodos que conheceu, a informação dada pelo narrador raramente se perde em divagações.
É um livro interessante, portanto, ainda que pouco desenvolvido em termos emocionais. Na verdade, é bastante difícil simpatizar com o protagonista, tendo em conta as suas acções e o tom com que as apresenta. Trata-se, ainda assim, de um livro bastante preciso no que toca à visão apresentada sobre o mundo do tráfico de droga. E, nesse aspecto, é uma leitura esclarecedora.
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