Graças à oferta inesperada de uma bolsa de estudo, Andras Lévi está no caminho do seu sonho. Recém-chegado a Paris, para estudar arquitectura, traz consigo, para além dos seus escassos pertences, uma misteriosa carta que lhe foi pedido que enviasse. Então, quase que por acaso, o seu caminho cruza-se com Claire Morgenstern, a destinatária dessa carta e, à medida que as dificuldades se vão tornando maiores e os pequenos obstáculos do início perdem força ante os duros tempos que se aproximam, é a força da ligação que se desenvolve entre Andras e a misteriosa Claire o centro de uma vida que, com todas as desilusões e tormentos, pode ser ainda algo por que valha a pena lutar.
É difícil resumir os elementos essenciais deste livro em poucos parágrafos, tantos são os aspectos marcantes nesta obra complexa e de grande profundidade emocional. Ainda assim, a ideia na base da narrativa poderia resumir-se a uma certeza muito simples: nada na vida corre como planeado. E Andras Lévi é o espelho desta certeza: começando pelas dificuldades a nível escolar (elas próprias, a seu tempo, parecendo uma tragédia insuperável) e, de esforço em esforço, na tentativa de viver a melhor vida possível na iminência de um conflito capaz de mudar o mundo, Andras cresce do jovem sonhador para o adulto marcado por demasiadas esperanças devastadas. Passa da ilusão à perda, retomando a esperança apenas para sofrer uma perda maior. Espera, planeia e desespera quando os planos acabam por resultar apenas num grande nada. E, rodeado de guerra e morte, temendo pelos que estão longe, Andras resigna-se ao que tem de aceitar, sem por isso desistir de tudo o resto.
História de um judeu nos tempos da Segunda Guerra Mundial, o percurso de Andras não é o mais doloroso dos que são apresentados, mas é duro o suficiente. E se há algo que se destaca num livro que é, todo ele, impressionante, é a forma como a autora dá vida a cada uma das personagens que rodeiam o mundo de Andras, conferindo-lhes uma história e uma personalidade que deixam marca na visão global. As ligações familiares, as pequenas (e as grandes traições), as amizades que se perpetuam para lá de anos e anos de sofrimento e trabalho forçado (ou pior), a capacidade de perdoar ante o pior... Há, ao longo da narrativa, um pouco de tudo o que representa o pior e o melhor da natureza humana. E, ao mesmo tempo que se constrói uma visão global do que terá sido ser judeu naqueles tempos, há também uma visão pessoal cuidadosamente criada. Há uma demora na caracterização das personagens, nos relatos do quotidiano daqueles tempos, e é isto precisamente que faz com que a história de Andras seja próxima e marcante. O leitor aprende a conhecer as personagens. E a sentir com elas.
História de amor em cenário de devastação, A Ponte Invisível liga, de forma impressionante, as margens da ilusão e da realidade, do sonho que se torna perda e da vida que, apesar de tudo, persiste para lá dessa perda. Complexo e comovente relato de um tempo que nunca será - não deve ser - esquecido, uma visão de sobrevivência e de humanidade. Mesmo ante circunstâncias desumanas.
Sem comentários:
Enviar um comentário