quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Fogo (Kristin Cashore)

A sua beleza marcou-a como um monstro... mas o seu poder é uma arma. Numa zona ameaçada por uma guerra iminente, a beleza de Fogo exerce sobre o que as rodeiam um fascínio irresistível - demasiado irresistível, por vezes - e a sua capacidade de controlo mental é uma ferramenta útil à luta pela paz no reino. Mas, filha de um monstro em aspectos completamente diferentes, Fogo hesita em dar uso aos seus poderes... E, mesmo enquanto a guerra se aproxima, enquanto a jovem descobre por um príncipe sentimentos que lhe parecem inaceitáveis, há ainda um outro poder que sente o seu fascínio - e que, por isso, a ameaça.
Prequela ao anterior livro da autora, Fogo apresenta para o universo de Cashore uma série de novos pontos de interesse. Apesar dos elementos de ligação entre Graceling e este livro, nomeadamente na figura de Leck, de quem um pouco da sua história é revelado, os elementos essenciais assumem um foco bastante diferente. A existência de monstros nos Dells, e o próprio conceito do que é um monstro, criam uma base interessante para uma história que, tendo como protagonista um desses seres, mas em forma humana, levanta, sem dúvida, algumas questões interessantes. Grande parte da vida de Fogo é definida pelos crimes do pai e pela forma como a contraditória ternura que este lhe demonstrava condicionara as suas próprias acções. Assim, impõem-se perguntas sobre a lealdade familiar, e se esta é justificada perante actos terríveis; sobre a escolha de usar (ou não) um poder que pode ser aplicado para o bem ou para o mal, tendo na memória as sombras do passado; sobre se os pecados dos pais se aplicam às gerações seguintes e todas as questões associadas a este tipo de preconceito.
Mas nem só de Fogo e da sua natureza vive esta história. Há muito de interessante tanto a nível de enredo (onde intrigas, conspirações e planos de guerra se misturam com perdas e descobertas de grande emotividade) como de personagens (e aqui destacam-se os quatro irmãos da família real e a fascinante relação entre eles). Acrescente-se a isto uma escrita cativante e um desenvolvimento narrativo onde acção, emoção e caracterização se misturam nas medidas certas e o resultado é uma leitura cativante, com alguns momentos verdadeiramente marcantes.
Com uma protagonista forte, mas humana (e, como tal, falível), rodeada de personagens interessantes (e relações, por vezes, tempestuosas), uma leitura agradável e cativante, quer pela história, quer por aqueles que a protagonizam. Vale a pena ler.

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