domingo, 7 de agosto de 2011

Contos Misteriosos

É possível que o título deste livro faça esperar algo de bastante diferente daquilo que, de facto, apresenta. A verdade é que uma selecção que começa com um conto muitíssimo interessante acaba por perder interesse nos restantes contos. Mas vamos por partes.
O primeiro conto (e, sem margem para dúvidas, o melhor) é de Nathaniel Hawthorne. O Véu Negro do Pastor conta como a decisão do pároco de cobrir o rosto com um véu negro causa escândalo e perturbação entre os seus fiéis. Destaca-se a associação popular do símbolo a uma marca de mácula secreta, fazendo, de certa forma, lembrar A Letra Escarlate. Também fascinante é a caracterização do padre Hooper, estranhamente próximo na sua melancolia. Junte-se a isto um final poderoso e o resultado global é deveras impressionante.
Infelizmente, o mesmo não se pode dizer do que se segue. O Pretendente, de John Collier, trata de um homem que procura comprar uma poção de amor e, se a ideia geral é bastante interessante, a impressão global é a de não ser mais que um fragmento ou uma ideia base para alo maior.
Roubo, de Katherine Anne Porter, acompanha os passos de uma mulher com uma relação distante com os seus bens materiais. Estranho, contraditório, tem força emocional, mas perde por ser um pouco confuso. Já A Lei, de Robert M. Coates, mostra o que aconteceria se a lei das probabilidades deixasse de se aplicar e de que leis aplicar em resposta. Mais uma ideia muito interessante, que começa até de forma bastante cativante, mas que perde envolvência pelo tom distante e quase dissertativo com que as reacções são apresentadas.
Por último, Ídolo, de John O'Hara, apresenta o encontro entre duas figuras de poder, para uma conversa sobre assuntos de emprego. Uma visão curiosa da influência de clubes e afiliações políticas, mas onde demasiado fica por explicar. Interessante, mas demasiado confuso.
Fica, pois, a impressão de uma leitura que vale fundamentalmente pelo primeiro conto, já que, ainda que os restantes tenham os seus pontos de interesse, deixam a ideia de qualquer coisa em falta. Valeu a pena ler, ainda assim, mesmo que apenas pelo conto de Hawthorne.

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