domingo, 28 de agosto de 2011

Rapariga com Brinco de Pérola (Tracy Chevalier)

Na sequência do acidente em que o pai perdeu a visão, Griet vê-se na necessidade de trabalhar como criada para conseguir algum rendimento para a família. Mas o ambiente na casa da família de Vermeer não é nada do que a jovem conhecera até então. Catharina, a esposa do pintor, antipatiza com Griet desde o primeiro momento e os acontecimentos posteriores apenas servirão para potenciar o seu ciúme. E, à medida que Griet sobe na confiança de Vermeer, começando a desempenhar um papel no seu trabalho, o ambiente na casa torna-se cada vez mais hostil, deixando a jovem criada indefesa ante o interesse de homens mais poderosos e o fascínio que, apesar de tudo, o seu amo continua a exercer sobre si.
Escrito de forma envolvente e bastante pessoal, na medida em que é Griet a contar a sua própria história, este livro representa, antes de mais, um percurso de crescimento. Entre a jovem de dezasseis anos que chega a casa de Vermeer sem saber exactamente o que esperar e a mulher que, dez anos depois, aceitou a realidade sem nunca esquecer o fascínio do passado, há toda uma aprendizagem nos múltiplos aspectos da vida. Enquanto criada, Griet sofre e aprende com as maldades da filha de Vermeer, com a hostilidade tanto de Catharina como de Tanneke, com a necessidade de conjugar a rotina de trabalho com os deveres ocultos que lhe são atribuídos. Enquanto mulher, aprende a conviver com o interesse de Pieter (interesse dominante que pouco tem em conta a sua vontade) e com a luxúria de Van Ruivjen, imperioso, da sua posição superior, na necessidade de ter o corpo da rapariga - nem que seja apenas na visão de um quadro.
Em oposição à quase transparência de Griet está Vermeer, o amo. Figura misteriosa, distante, quase inatingível, o pintor fascina principalmente pelo efeito que exerce sobre a protagonista, o desejo que evoca, mas que nunca se materializa senão nas emoções de Griet. Esta atracção impossível acaba por se elevar ante todos os outros aspectos da vida da protagonista. A vida familiar, que se estilhaça com o conhecimento de que os afectos pouco importam nas escolhas que dela são esperadas. A vida amorosa (se tal se lhe pode chamar) com um marido escolhido por tudo menos amor. E a visão do mundo em geral, com todos os seus rumores e preconceitos, limitando acções e bloqueando possibilidades.
Envolvente, um livro com momentos de grande emoção e um final particularmente marcante - tanto pelo tom de resignação como pela visão de tudo o que poderia ter sido a vida de Griet, mas que simplesmente não aconteceu. Muito bom.

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