quarta-feira, 18 de maio de 2011

A Mulher que Amou o Faraó (Helena Trindade Lopes)

Algumas memórias dispersas evocadas em conversa com a sua neta levam Ísis a reviver o seu passado e, com ele, um período atribulado da história do Egipto. Agora uma mulher distinta, rodeada de conforto e preocupada apenas com a felicidade da neta, Ísis foi, em tempos, uma mulher apaixonada, alguém que descobriu a força de um amor intenso e a angústia da traição, na sua história de amante, de amiga e de mulher. Mas, passados demasiados anos, os segredos parecem ganhar uma vontade própria de surgir...
O mais interessante neste livro é a forma como, ao mesmo tempo que introduz diferentes aspectos da história e da cultura egípcias, a autora cria uma aura de mistério através das oscilações entre diferentes pontos na vida de Ísis. Ao alternar entre as conversas da mulher com a sua neta e as memórias de um passado que parece muito distante, há uma envolvência que se cria, uma vontade de saber mais sobre o passado, mas também de como reagirá Tity quando os segredos se tornarem conhecidos.
Um outro aspecto marcante é a intensa e constante presença da emoção ao longo do enredo, com grande predominância no amor entre Ísis e os homens da sua vida, mas também nas amizades, na fidelidade, nas desilusões. Criam-se assim alguns momentos bastante comoventes, principalmente a partir de uma fase do enredo em que as personagens se tornam, de certa forma, familiares.
Nem tudo é perfeito, claro, e, principalmente na fase inicial, há algo nos diálogos que causa uma certa estranheza. Na necessidade de transmitir ao leitor uma certa medida de informação (quer de cenários, quer de costumes) e ao fazê-lo através do diálogo, há algumas conversas que soam um pouco forçadas. Há, ainda assim, uma tendência para que esta estranheza diminua ao longo do enredo, quando as informações essenciais são já conhecidas e, portanto, há menos de aspectos descritivos a serem apresentados.
Fica ainda a curiosidade em saber mais sobre a história de Akhetaton de um ponto de vista mais global e menos centrado nos protagonistas do livro. Ainda assim, é nas relações que reside o essencial desta história e, nesse aspecto, os grandes acontecimentos são claros e marcantes.
Com uma escrita directa e agradável e uma história interessante, este é um livro que, apesar de algumas fragilidades, não deixa de ser cativante e, em certa medida, marcante do ponto de vista emocional. Deixa ainda, sem dúvida, a vontade de saber um pouco mais sobre a época histórica apresentada neste enredo e as figuras que a marcaram.

Sem comentários:

Enviar um comentário