terça-feira, 3 de maio de 2011

O Protector (Madeline Hunter)

Morvan Fitzwaryn não espera sobreviver. Fechado num espaço exíguo com o seu escudeiro moribundo, são escassas a probabilidades de que não tenha também contraído a peste. Mas, quando a população assustada pretende incendiar a casa onde ambos se encontram, um cavaleiro desconhecido interrompe-os e toma sob a sua protecção tanto Fitzwaryn como os seus homens. O problema é que esse cavaleiro é uma mulher e, apesar do seu temperamento difícil e dos seus modos invulgares, Anna de Leon desperta no coração do cavaleiro um desejo incontrolável.
Tenho sérias dificuldades em explicar os meus sentimentos relativamente a este livro. O início parecia bastante promissor e o final é, de facto, marcante, mas a verdade é que há toda uma fase do enredo em que é impossível não sentir irritação face aos protagonistas. Mas vamos por partes.
A ideia inicial do cavaleiro que trava conhecimento com a dama numa circunstância difícil - no caso, a sua vida está provavelmente perdida - tem bastante potencial. Alie-se a toda a questão da peste negra a existência de um inimigo disposto a tudo para conquistar as terras e o corpo de Anna de Leon e o resultado é um conflito capaz de criar grandes tensões e momentos de intensidade, como de facto acontece no final. Na verdade, Gurwant, o vilão, com toda a sua impassibilidade perante as exigências do seu objectivo, consegue ser uma das figuras mais interessantes do livro.
O grande problema reside, portanto, na caracterização de ambos os protagonistas, bem como na relação entre ambos. Anna de Leon é apresentada como uma figura forte e indomável, mas quando essa força é realmente necessária, parece ceder no que verdadeiramente interessa, limitando os seus actos de rebelião a situações quase caricaturais. E Morvan é uma constante contradição. Dominador, obsessivo, agressivo e arrogante, oscila entre breves atitudes de pura paixão e um temperamento simplesmente tirânico. Mesmo perante a sombra da peste, parece pensar em pouco mais que seduzir a mulher que o salvou. E, apesar de se ter, supostamente, apaixonado por essa mulher independente, são poucos os gestos da sua parte que não tenham por objectivo silenciar essa liberdade. Quanto à relação entre os protagonistas, impõe-se dizer que é essencialmente baseada na atracção física, o que, além de tornar alguns dos momentos algo forçados, também faz com que esta atracção funcione mais como meio de conquista, usado segundo a vontade de Morvan primeiro para seduzir e depois para impor a sua vontade.
Há uma certa evolução na fase final do livro, já que os esquemas de Gurwant acabam por colocar os protagonistas numa situação em que é imperativo afastar as regras impostas por Morvan, caso contrário tudo estará perdido. E é aqui que a autora consegue criar algo de genuína emoção, criando, finalmente, algo de sentimento na relação entre o casal que, durante demasiado do enredo, parece perder-se em pouco mais que conflitos irritantes. Há, portanto, um certo nível de melhoria nesta fase e o final consegue deixar o seu impacto, até porque a escrita da autora não é de todo desagradável. Mas, graças à centralização no lado físico da relação e ao temperamento algo estranho dos protagonista, esta fluidez surge demasiado tarde na narrativa.
Uma ideia interessante, portanto, com alguns pontos positivos na fase inicial de conhecimento e no impacto de um final onde a atracção parece, finalmente, dar lugar a sentimentos profundos. Ainda assim, há demasiado de forçado, de confuso e de enervante na interacção entre os protagonistas, bem como na personalidade de ambos. E os bons momentos do livro não bastaram para compensar esse aspecto.

2 comentários:

  1. Olá!
    Nós enviamos uma mensagem para o vosso email e gostariamos que visse e respondesse.
    Obrigado

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  2. Olá, em primeiro lugar escreves muito muito bem! Parabéns! Gostei da critica, este livro está na minha estante à espera de mim! Espero que seja para breve, mas o tempo é limitado! Eu já li outros livros da autora e gostei muito, tenho todos os livros dela editados cá em Portugal, e em relação aos outros já senti o mesmo em relação às personagens...engraçado! Gosto mto do teu blog! Bjinhu

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