terça-feira, 17 de maio de 2011

Retrato de Família (Jojo Moyes)

A vida de Joy muda no dia da coroação de Isabel II, que é também o dia do seu primeiro contacto com Edward Ballantyne, o homem que, tão semelhante a si nos gostos e nos valores, acaba por se tornar, de forma algo abrupta, o seu marido. Mas o tempo passa... E, mais de quarenta anos depois, as memórias do passado terão de ser evocadas ainda mais uma vez, já que a chegada de Sabine a Kilcarrion desperta tantos conflitos como ligações de afecto e, depois de todas as dúvidas e das marcas deixadas pelo tempo, os atritos e os mal-entendidos não mais poderão ser deixados sem resolução.
E com uma escrita cativante e cheia de força emotiva que Jojo Moyes constrói esta história de famílias e afectos. Com personalidades e temperamentos tão fortes e tão diversos, num enredo que percorre uma ampla área temporal, a autora apresenta uma história onde as memórias e os laços de união são o elemento principal. E isto não implica necessariamente uma história feliz e de harmonia. Muito pelo contrário. Não basta um laço de sangue para criar elos profundos e isto é algo que se reflecte nos conflitos que, através de duas épocas diferentes, reflectem com nitidez as falhas e dificuldades da vida familiar.
Algo de particularmente cativante na construção das personagens é o facto de muitos deles apresentarem algo que o leitor poderá reconhecer de figuras da sua vida real. Christopher, motivado principalmente pelo interesse. Julia e o seu dramatismo. Sabine, com as marcas de uma vida irregular e a revolta da adolescência. Joy e a sua história de amor falível. Kate, instável, insegura. E tantos, tantos outros, com as suas histórias e cicatrizes.
Há momentos de harmonia ao longo do enredo, erros e culpas que, de forma mais ou menos atribulada, se resolvem, situações que se encerram da melhor forma. E, contudo, se há algo particularmente claro neste livro é que nenhum caminho é infalivelmente feliz. Há sempre algo depois do "felizes para sempre", e isto é algo que transparece de forma particularmente marcante na história de Joy e Edward. Mais até que nos mal entendidos com Kate e na construção de uma relação melhor com Sabine, é na história do casal idoso que mais se sente a força da perda inevitável, a certeza de que, por mais que os afectos durem, por mais profundas que sejam as ligações construídas, a estrada da vida nunca é fácil. E há marcas que nunca deixam de doer.
É, por isso, na emoção, e na forma como esta se entretece num enredo envolvente e cheio de surpresas, que reside a grande força deste livro. E é essa força de sentimentos, que cresce ao longo da história e que, de certa forma, apela às memórias do próprio leitor, que deixa uma marca intensa e pessoal. A de um caminho que, em certos momentos, se torna próximo e que, por isso, cativa e comove.

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