segunda-feira, 2 de maio de 2011

A Princesa Guerreira (Barbara Erskine)

Na sequência de um ataque do qual mal se consegue lembrar, mas que suspeita ter vindo de parte de alguém que a conhece bem, Jess refugia-se no silêncio e no isolamento de Ty Bran, a casa da irmã. Mas, sozinha na casa, Jess começa a ouvir a voz de uma criança assustada. E, ao mesmo tempo que as suas próprias memórias do ataque regressam para revelar uma ameaça ainda presente, Jess vê-se transportada para a história de Eigon, a filha do lendário Caratacus.
É impressionante a forma como tantos e tão diversos elementos se cruzam ao longo deste livro, sem que a narrativa perca interesse e fluidez. A autora constrói com mestria situações de tensão, medo, perda e esperança, independentemente do tempo histórico em que está a escrever. E se a história de Eigon marca pela sua persistência perante a adversidade, tanto enquanto criança assustada como enquanto mulher perseguida por um adversário imparável, também a história de Jess, ligada à desta impressionante princesa, cativa tanto pela determinação da protagonista como pelos seus momentos de vulnerabilidade e pelas situações de perturbação e perigo em que acaba por, inevitavelmente, se envolver.
Ty Bran é um lugar com uma grande e tenebrosa história e, portanto, é apenas natural que os fantasmas desempenhem um papel fulcral em todo este enredo. Mas o mais curioso neste aspecto é que o que começa por parecer uma assombração comum acaba por se revelar numa visão bem mais abrangente do mundo sobrenatural. Leituras de cartas, comunicação com os espíritos e inclusive uma colaboração com uma vidente à distância de dois milénios fazem parte de uma vasta dimensão que surge de forma quase discreta e que, à medida que a história de Eigon se torna mais e mais vasta, vai ganhando força e complexidade.
Há espaço para todo um espectro de possibilidades, desde os gestos do quotidiano de uma mulher disposta a fazer o melhor pelo seu aluno mais promissor ao impressionante elo estabelecido entre dois tempos tão distantes, um elo tão forte que acaba por ser base de um final bastante diferente do que seria expectável e, também por isso, de maior impacto.
Forte nas emoções que transmite, cativante na linha narrativa, marcante pelas personagens que marcam esta história e escrito com uma harmonia fluída e envolvente, A Princesa Guerreira cruza as medidas certas de mundano e sobrenatural, de memória e de futuro, de emoção e de racionalidade. E é este domínio de emoções e circunstâncias, aliado a uma história sólida e muito bem escrita, que torna esta leitura algo de tão fascinante.

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