domingo, 22 de maio de 2011

Na Sombra do Dragão (J.R. Ward)

Há algo de atormentado em Rhage. A sua ânsia por uma luta feroz ou por uma noite passada com uma mulher humana (qualquer mulher humana) é algo que lhe conquistou uma reputação entre os da sua raça. Mas os seus motivos são bem mais sombrios que um simples apetite insaciável. Há uma maldição dentro de si, um monstro que, caso não consiga controlar, ameaçará todos aqueles que o rodeiam. Mas a sua forma de vida vai mudar e, com ela, os aspectos de si mesmo que tentou esconder ou que ele mesmo ignorava. Porque, quando a frágil, mas estranhamente corajosa Mary Luce entrá na sua vida, o guerreiro compreende que ela é mais que simplesmente outra mulher no seu caminho.
É de esperar que, neste tipo de livro, haja uma certa predominância do aspecto sensual da relação entre os protagonistas. E é isso que, de facto, acontece. Mas o mais interessante é que, não só esses episódios estão bem enquadrados no ritmo da narrativa, como acabam por não ser o aspecto mais relevante da história. Tal como já acontecera no livro anterior, há toda uma série de elementos a descobrir ao longo deste livro: desde as relações e protocolos da Irmandade da Adaga Negra aos novos planos dos seus inimigos, passando pela forma de vida dos vampiros fora da Irmandade e até pelos seus contactos com humanos normais. Além disso, e ainda que a história seja centrada na evolução da relação entre o casal (e consequentes dificuldades), há elementos que vão sendo introduzidos e que permitem uma visão mais global da série. Neste livro em concreto, há já alguns acontecimentos que preparam a história de Zsadist e também, em menor grau, a de John.
O que mais fascina neste livro, ainda assim, é a forte carga emocional, devida não apenas ao passado atormentado e marcado por diferentes tipos de dificuldades de Rhage (e um dos pontos de interesse em cada livro é a forma como as cicatrizes do passado moldam a personalidade de cada guerreiro), mas também pela dura história de vida de Mary Luce (e a sua luta contra a doença), bem como pela forma como a descoberta um do outro condiciona as suas histórias. Há momentos de dúvida e, principalmente, de sacrifício que são de uma intensidade devastadora e a forma directa como a autora os apresenta deixa marcas na memória.
Não é muito difícil adivinhar, de uma forma vaga, como acabarão as coisas para os protagonistas deste livro. E, ainda assim, a autora consegue criar tensão e semear dúvidas na mente do leitor, criando um percurso onde as dificuldades são tantas que se torna difícil, por momentos, vislumbrar alguma ideia de salvação. Mas é também neste percurso de dificuldades que a autora apresenta os momentos mais emotivos, não apenas na vertente romântica, mas em toda uma visão de amizade e lealdade que confere aos outros sentimentos uma maior força.
Um livro viciante, com um sistema bastante interessante e uma história onde as emoções (que não se resumem ao amor) são soberanas e o passado tem sempre um papel fundamental nos gestos e nos valores dos seus protagonistas. Cativante. Comovente. Muito bom.

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