domingo, 29 de abril de 2012

David Copperfield (Charles Dickens)

De um nascimento algo atribulado e através de um caminho de dificuldades e tragédias pessoais até à busca da muito desejada felicidade possível, esta é a história de David Copperfield, da infância difícil sob o jugo de um pai tirânico à luta contra o seu próprio destino ao partir em busca de uma alternativa que, embora desconhecida, será sempre o mal menor, e à criação de laços de afecto com o vasto número de indivíduos que, para bem ou para mal, cruzarão o seu caminho. Este é não só um percurso cheio de aventuras e tribulações, mas também uma jornada de crescimento pessoal. Pois, com cada uma das suas experiências, Copperfield evolui enquanto ser humano, retirando do que vê, de bom e de mau, nos que o rodeiam, uma lição sobre o que deve ser. Mas esta não é só a história do seu narrador, mas também o retrato de uma sociedade onde o bem e o mal coexistem num estranho equilíbrio e onde cada um dos seus elementos tem também o seu papel no plano global dos acontecimentos.
É precisamente na caracterização da sociedade da época que está o lado mais complexo e mais impressionante deste livro. Há uma visão que, ainda que, por vezes, algo caricatural, das suas principais personagens, põe em evidência as maiores qualidades e os mais claros defeitos das personagens que definem a sociedade na qual Copperfield se movimenta. Cada indivíduo parece representar um elemento de uma classe maior, desde os Murdstone com a sua quase fanática obsessão pela severidade (que, ainda que de uma forma diferente) se reflecte também no papel de Mr. Creakle, à diferença de classes evidenciada na algo amarga história de Steerforth e da sua família, e na sua relação com a família de Peggotty, passando ainda pela falsa humildade de um muito detestável Uriah Heep que esconde no seu interior um vilão muito peculiar. Personagens como esta representam os meandros mais sombrios de um meio social que é bastante mais complexo que a história dos seus indivíduos e que se complementa também pelos igualmente caricatos, mas muito bem conseguidos, exemplos de bondade, dos quais se destacam a incessante busca de Mr. Peggotty pela sua sobrinha perdida e o sempre altruísta apoio de Agnes a Copperfield.
Com um vastíssimo elenco de personagens e um enredo complexo tanto a nível de acontecimentos como de caracterização do ambiente em que estes ocorrem, não surpreende, portanto, que o ritmo da narrativa seja pausado e marcado por uma forte componente descritiva. Não é, por isso, uma leitura compulsiva, mas antes um livro para apreciar lentamente, assimilando os muitos detalhes que são apresentados, bem como a visão mais global por detrás da história dos indivíduos que povoam este romance. Mas importa ainda voltar a falar do herói, pois, para além de narrador de uma longa aventura, sua e dos que o rodeiam, Copperfield é, apesar de tudo, protagonista, e há momentos na sua história pessoal que deixam também a sua marca. Particularmente na história da sua infância, após a entrada dos Murdstone na sua vida, e nas perdas que, ao longo do percurso, marcam a sua vida, Copperfield é também figura essencial nos momentos mais emotivos do livro. Momentos que, apesar de esporádicos, ficam na memória bem depois de terminada a leitura.
História do crescimento e da formação de um indivíduo, mas também retrato complexo e crítico da sociedade em seu redor, David Copperfield pode estar longe de ser uma leitura viciante, mas cativa e surpreende pela vasta quantidade de pormenores a descobrir ao longo da leitura. Um clássico que vale a pena ler.

1 comentário:

  1. Vale mesmo MUITO a pena ler! Como refiro no meu blog, de Charles Dickens recomendo tudo! Estou a gostar das leituras pelo teu blog ;)

    ResponderEliminar