Errante pelo mundo onde caminha, mas também pelos meandros da sua jornada interior, o sujeito poético destes poemas percorre, é certo, uma diversidade de ambientes e de referências. De uma visão crítica da sociedade, ao lado mais pessoal e introspectivo, passando pela visão dos mundos internos de quem escreve e de quem imagina e pela vida enquanto capítulo de uma bíblia particular, os poemas deste Livro do Português Errante têm ora a simplicidade que tudo diz em poucas linhas, ora a complexidade de quem reflecte o mundo pelas palavras certas.
Cada uma das partes deste livro estabelece para o conjunto uma divisão temática. Se cada poema é, por si só, um texto completo onde a imagem que se pretende transmitir surge na sua totalidade, há, contudo, uma presença maior, como que uma imagem global mais ampla que resulta do conjunto de todas as partes. Isto acontece em cada uma das partes, em que os vários poemas que constituem se relacionam pelo elo comum do tema, mas também na globalidade do livro, em que a ligação entre as várias partes se define numa visão mais ampla: a do mundo, com todas as suas complexidades, visto pelos olhos do homem que vagueia.
As palavras são simples, por vezes, mas a imagem resultante impressiona. Quer na subtileza com que o retrato se insinua nalguns poemas, quer pelo tom mais introspectivo noutros, quer ainda na forma como estes dois lados se conjugam. O resultado, esse, é uma leitura fluída, com a medida certa de cada sentimento a dar proximidade a poemas onde vive também o inesperado, mesmo quando poucas linhas bastam para dar voz à alma do sujeito poético.
Cativantes no ritmo e na fluidez das palavras e belos pelas imagens que transmitem, os poemas deste livro definem bem a percepção de uma mente aberta ao mundo em volta. Dos mais simples e breves aos que se estendem por uma visão mais ampla, há em todos os textos deste Livro do Português Errante algo de bom para descobrir. E, por isso mesmo, vale a pena ler.
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