segunda-feira, 9 de abril de 2012

Não Sou um Serial Killer (Dan Wells)

Aos quinze anos, John Wayne Cleaver está convencido de que está destinado a ser um serial killer. E as circunstâncias a favor da sua teoria são várias: como se não bastasse ter o nome de um serial killer e de uma arma, John parece ser incapaz de criar empatia com qualquer pessoa ou até mesmo de sentir qualquer emoção. Mas, destino ou não, John não quer seguir esse caminho e, para se impedir de fazer algo de irreversível, criou um conjunto de regras que têm vindo a gerir a sua vida. O problema é que, no momento em que a tranquilidade de Clayton é abalada pela descoberta de um corpo mutilado... ao qual se seguirá outro... e outro mais, John descobre que só ele, com a sua capacidade de pensar como um serial killer e de analisar a situação de formas que nem passariam pela cabeça das pessoas "normais", poderá fazer com que as mortes deixem de se suceder. E, ante um adversário difícil de compreender, é possível que várias regras tenham de ser quebradas para o parar.
É de uma forma quase descontraída que o protagonista nos conta os aspectos mais perturbadores do seu estranho mundo. Narrado na primeira pessoa e com uma escrita directa e envolvente, Não Sou um Serial Killer conjuga elementos de mistério e de macabro com um tom leve e que surpreende por alguns laivos de humor e uma visão bastante curiosa do que define um sociopata - aos olhos do próprio. É, pois, a estranha personalidade de John, que, com as suas peculiaridades, que primeiro chama a atenção deste livro, sendo particularmente curioso que um protagonista tão invulgar como John - o rapaz que se julga um futuro serial killer - acabe por surgir como um quase herói para a narrativa.
John é, portanto, um protagonista interessante, mas nem só dele vive a história. Se os meandros da mente de John na sua luta contra o que parece ser a natureza proporcionam, por si só, momentos de grande intensidade, há ainda assim um outro grande elemento a definir o rumo dos acontecimentos e esse é o suposto serial killer que está a deixar vítimas por Clayton. Aqui, sobressai a forma como o autor constrói o mistério, passando depois para uma revelação que é apenas o início, já que, ao incluir elementos de inexplicável, a história passa a dizer respeito menos aos passos da investigação e mais à descoberta de uma maneira de deter o assassino.
Ao confrontar John com um adversário em que o comum habitante de Clayton jamais poderia acreditar, cria-se também um interessante contraste entre os possíveis distúrbios na mente de um sociopata e uma "entidade" que, sem que a sua natureza seja amplamente explicada, se define também pela acção motivada pela necessidade, ainda que de um tipo diferente.
Com uma história cheia de surpresas, um conjunto de personagens interessantes e uma abordagem bastante inesperada ao mundo do crime, Não Sou um Serial Killer surpreende tanto pelo tom quase descontraído com que o autor desenvolve um tema bastante negro como pela forma como o protagonista é moldado pela situação em que acaba por se envolver. Surpreendente, de leitura compulsiva... e muito bom.

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