quinta-feira, 5 de abril de 2012

Há Prendisagens com o Xão (Ondjaki)

É difícil definir este conjunto de textos. Situados algures entre a poesia e a prosa poética, apresentando cenários que são, ao mesmo tempo, concretos e improváveis e tendo o jogo de palavras como principal ponto de destaque, este livro apresenta-se como uma obra invulgar no que diz respeito à poesia. E por vários motivos.
O primeiro é que é difícil, por vezes, vislumbrar uma identidade para o sujeito poético, em parte devido ao tom quase descritivo de alguns textos, em parte devido a uma elaboração estrutural (quer a nível de ritmo, quer a nível de jogos de palavras) que coloca o lado sentimental e de transmissão de uma mensagem num inevitável segundo plano. Junte-se a isto a vastidão de vocábulos pouco familiares e a tal dominância do ritmo e dos jogos de palavras sobre qualquer possível mensagem e o resultado é um livro em que o lado emotivo e pessoal se perde, num texto em que o objectivo parece ser precisamente brincar com as palavras e, ao invés de contar uma história ou transmitir as emoções de uma experiência, dessas palavras fazer surgir uma imagem. E as imagens são muito interessantes, de facto, sendo particularmente cativantes os textos em que o tom quase narrativo mais se evidencia. 
É, portanto, a peculiaridade das imagens e da estrutura com que são construídas o que mais se destaca, e não propriamente o conteúdo. Fica, portanto, a impressão global de uma obra invulgar, que se afasta em grande medida da componente mais lírica da poesia, para se centrar nas particularidades da linguagem. Interessante, em suma, mas deixa a curiosidade em ver um lado mais pessoal em que ambas as partes se conjugassem.

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