Terminada a batalha que destruiu a Ilha dos Sonhos, Kelda julga estar a tomar a única decisão que permitirá salvar o seu povo ao tomar o lugar da Sacerdotisa dos Penhascos. Mas a situação é mais complexa do que parece e a escolha de Kelda coloca-a numa posição delicada. Por um lado, a imagem que tinha do irmão é bastante diferente daquilo que encontrará. Por outro, as forças que se reúnem em torno do Filho do Dragão são bastante mais vastas e complexas do que a mente de Kelda podia abarcar. E, ao mesmo tempo que descobre que ninguém é exactamente aquilo que esperava, Kelda terá também de fazer o inaceitável para manter intacta a sua posição em território inimigo.
Se, ao longo dos volumes anteriores, a história vinha já a seguir um rumo progressivamente mais sombrio, em O Filho do Dragão este caminho atinge um ponto de não retorno. Ao colocar a protagonista em ambiente hostil e na necessidade de assumir uma inevitável duplicidade, é inevitável que o curso da narrativa siga pela revelação do lado mais cruel e tenebroso do conflito. A ligação que Kelda julgara ter com Halvard é desenvolvida como algo bem diferente do que a protagonista esperava e o seu papel a desempenhar naquele cenário coloca-a perante a necessidade de fazer uma escolha quando nenhuma das possibilidades se afigura tolerável. Isto permite, portanto, revelar o melhor e o pior de Kelda, desenvolvendo tanto as suas forças como as vulnerabilidades, humanizando-a pelas escolhas erradas, sem por isso menorizar os seus momentos de força.
Ao contar a vasta maioria da história na primeira pessoa, cria-se também uma visão mais pessoal do conflito maior. É através de Kelda - com os seus dilemas, as suas visões e as suas acções - que o evoluir dos acontecimentos em redor é dado a conhecer. Sente-se, portanto, a ausência de algumas personagens já familiares, mas fortalece-se o impacto de cada acção na protagonista e na sua visão dos que o rodeiam. Mas nem só de Kelda vive esta história e a sua presença junto de Halvard serve também para revelar um lado inesperado de outras personagens. Aqui, destaca-se, como não podia deixar de ser, o papel de Sigarr, cujo enigmático modo de agir serve não só para criar alguns dos momentos mais intensos da narrativa, como para base de reflexão sobre a possibilidade de redenção e de mudança no espírito humano.
Numa história que se define tanto pelos pequenos momentos - já que Kelda está a descobrir como (sobre)viver ante o inimigo - como pelas grandes batalhas, é natural que o ritmo da narrativa seja relativamente pausado. Há, ainda assim, momentos de grande intensidade, tanto a nível de conflito entre forças como de simples impacto emocional, o que, aliado a uma escrita fluída e cativante, faz com que a leitura nunca deixe de ser envolvente.
Personagens cativantes, uma protagonista forte, mas humana e falível, e uma história envolvente e com as medidas certas de emoção e empatia são, portanto, os grandes pontos fortes deste livro que, introduzindo nos rumos da história um curioso equilíbrio de esperança e fatalismo, deixa no ar muita curiosidade para o que virá no final. Muito bom.
Estou deserta para o comprar! Finalmente :) já o esperava há muito!
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