sábado, 7 de abril de 2012

O Teu Relâmpago na Minha Paz (Luís Miguel Raposo)

Carla entrou na vida do protagonista para abalar as fundações da sua vida. Tão diferente de tudo o que ele até então conhecera, Carla foi mudança e descoberta, mas também abalo e ruína do rumo de toda uma vida. O trabalho, os gostos, até mesmo a forma de ver a vida foram abaladas pela forma muito particular como Carla vivia a sua própria vida. Nasceu amor, de uma forma muito peculiar, mas um amor que de romântico teria muito pouco. Um amor fora do normal, pois também Carla o era.
Com uma parte considerável escrita em forma de poema e o restante com um ritmo de escrita que se define pelo fluir do pensamento do narrador/protagonista, a impressão inicial deste livro é a de uma natural estranheza. É preciso assimilar a forma como a narrativa flui, sem uma linha temporal definida, mas antes evocando memórias à medida que estas parecem surgir na mente do narrador. É preciso, ainda, assimilar a forma muito própria de escrita, onde os devaneios se entrelaçam com um descrever de acontecimentos onde é sempre o ponto de vista do protagonista que prevalece. Tudo isto faz com que não se possa considerar este livro como de leitura compulsiva, já que exige tempo e atenção para captar todas as suas peculiaridades.
Assimilados todos estes aspectos invulgares, o ritmo de leitura torna-se bastante agradável. As impressões do protagonista sobre os acontecimentos e a forma como estes abalam a sua vida tornam-se familiares e o seu ritmo de pensamentos torna-se fácil de acompanhar. Neste ponto, as acções do protagonista tornam-se mais interessantes e a forma como a sua estranha relação com Carla acaba por evoluir torna-se também mais cativante, à medida que o fim inevitável se vai insinuando, deixando sempre em aberto uma vaga esperança de que tudo possa ser diferente.
Trata-se, portanto, de um livro que, apesar de uma fase inicial em que é exigida alguma concentração para superar a estranheza de todas as suas particularidades, se torna, com o avançar da narrativa, numa leitura envolvente em que o amor e a perda são abordados de uma forma muito própria. Gostei de ler.

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