Um acontecimento real – as sucessivas mortes de pessoas provocadas por ataques de leões numa remota região do norte de Moçambique – é pretexto para Mia Couto escrever um surpreendente romance. Não tanto sobre leões e caçadas, mas sobre homens e mulheres vivendo em condições extremas. Como afirma um dos personagens, «aqui não há polícia, não há governo, e mesmo Deus só há às vezes». E a Confissão da Leoa, através da versão de Mariamar, habitante da aldeia de Kulumani, e do diário de Gustavo Baleiro, o caçador contratado para matar os leões – os dois narradores desta história – vai expondo diante dos nossos olhos como a guerra, a fome, a superstição, podem transformar os homens em animais selvagens: «foi a vida que a desumanizou. Tanto a trataram como um bicho que você se pensou um animal». Sobre e contra este pano de fundo ergue-se uma extraordinária figura de mulher – Mariamar.
A Confissão da Leoa é bem um romance à altura de Terra Sonâmbula e Jesusalém, já conhecidos do leitor português.
Mia Couto nasceu na Beira, Moçambique, em 1955. Foi jornalista e professor, e é, atualmente, biólogo e escritor. Está traduzido em diversas línguas. Entre outros prémios e distinções (de que se destaca a nomeação, por um júri criado para o efeito pela Feira Internacional do Livro do Zimbabwe, de Terra Sonâmbula como um dos doze melhores livros africanos do século xx), foi galardoado, pelo conjunto da sua já vasta obra, com o Prémio Vergílio Ferreira 1999 e com o Prémio União Latina de Literaturas Românicas 2007. Ainda em 2007 Mia foi distinguido com o Prémio Passo Fundo Zaffari & Bourbon de Literatura pelo seu romance O Outro Pé da Sereia. Jesusalém, o seu último romance, foi considerado um dos 20 livros de ficção mais importantes da «rentrée» literária francesa por um júri da estação radiofónica France Culture e da revista Télérama. Em 2011 venceu o Prémio Eduardo Lourenço, que se destina a premiar
o forte contributo de Mia Couto para o desenvolvimento da língua portuguesa. A Confissão da Leoa é o seu mais recente livro.
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