Tido como um colégio católico de elevado prestígio, Mount St. Gabriel's permaneceu na memória de professoras e ex-alunas bem depois do encerramento da academia e do quase desvanecimento da Ordem de Santa Escolástica. Mas, na memória da antiga directora, convidada, décadas mais tarde, a escrever as suas memórias da escola, houve um ano que se estabeleceu como particularmente traumático nas suas memórias, e ao qual se viria a referir como "o ano tóxico". Estava-se em 1951 e as mudanças começavam a surgir com a chegada de novas alunas e com a alteração na estrutura da turma do nono ano. É que Tildy Stratton, a líder natural dessa turma, trocara a amiga que até então fora o seu braço direito pela recém-chegada Chloe Starnes. E esta primeira mudança, associada às oscilações na vida pessoal das várias alunas, viria a ser o ponto de partida para ressuscitar a sombra de um passado intensamente vivido pela própria directora...
Rivalidades consolidadas com o passar do tempo e pequenos ódios que se perpetuam são uma boa parte das circunstâncias a definir o rumo dos acontecimentos, nesta história que atravessa décadas e que apresenta não só um caminho próprio para as várias personagens, mas as mudanças por estas sofridas com o decorrer dos anos. Há, portanto, uma alternância entre diferentes épocas na construção da narrativa, o que, aliado a algumas "conversas interiores" alimentadas por uma das personagens, faz com que o início se revele um pouco confuso. Assimilado este toque peculiar, contudo, a história torna-se envolvente, interessante e com uns quantos bons momentos de emoção a pontuar uma narrativa que é, toda ela, feita do crescimento das suas personagens.
Situando-se na sua maioria num colégio de freiras, é de esperar que haja algum desenvolvimento a nível de temas como a vocação e as formas de viver a religião. Há, ainda assim, algo de surpreendente na forma como estes temas são abordados, sendo que a vocação não só é vista de um ponto de vista cativante na história da fundação da imaginária Ordem de Santa Escolástica, mas funciona também como elemento de base para uma série de importantes revelações no decurso da narrativa.
A escrita é agradável, fluída, mas sem grandes elaborações, apresentando, na medida certa, os detalhes relevantes do cenário de Mount St. Gabriel's e, em particular, da Freira Vermelha. Esta última é, aliás, tão interessante a nível de descrição da escultura e do meio que a envolve como da história (ou histórias) a ela associada, até porque também representa um dos grandes pontos de viragem no rumo da história.
De ritmo inicialmente pausado, mas crescendo em intensidade à medida que os mistérios se adensam e as relações com o passado se tornam mais evidentes,
O Colégio de Todos os Segredos é, no seu essencial, uma história sobre o tempo e a forma como este molda personalidades e relações. Uma história cativante, com personagens bem construídas e um contexto com vários pontos de interesse a descobrir. Muito bom.
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