Quando o assobiador chegou a aldeia, tudo mudou. Ninguém sabia de onde viera e as reacções à sua presença nem sempre eram as melhores, mas o facto é que as suas melodias trouxeram magia à aldeia e os seus habitantes passaram a ter sonhos mais nítidos e a descobrir sentimentos que julgavam desconhecer. A música veio e com a sua harmonia chegaram os pássaros, para espanto das gentes cujos corações precisavam de se abrir. Esta não é a história do assobiador, mas antes a da obra que, em poucos dias, ele operou.
É interessante a forma como tantas vidas se cruzam numa história relativamente curta, sem que nenhuma delas pareça fora do contexto. Não há uma grande elaboração a nível de caracterização das personagens, mas o essencial de cada um é desenvolvido nos fragmentos que lhe dizem respeito e a união de todos esses fragmentos resulta numa história que, apesar de uma certa ambiguidade, se apresenta, no essencial, como uma história bem clara: a de como, por vezes, a mudança está nas pequenas coisas. É, aliás, curioso notar que, de todas as personagens, é provavelmente o assobiador aquele de quem menos é revelado, funcionando não como um protagonista, mas como um veículo dessa tal mudança.
Composto como uma série de episódios curtos que se interligam para formar um todo maior, este livro marca também pela escrita, não propriamente elaborada, mas surpreendente pelas imagens que evoca, bem como pelo ritmo e pela quase poesia que se evidenciam na fluidez das palavras. A expressão das emoções e o lado introspectivo que é também um elemento essencial deste livro - ou não se debruçasse ele sobre as mudanças ao longo da vida e até à morte - torna-se assim mais clara, aliando a beleza das frases à intensidade da mensagem.
Cativante, com uma história curta, mas inesperadamente complexa, O Assobiador apresenta, na sua essência, a crónica de um lugar e dos seus habitantes quando confrontados com um veículo de mudança. Interessante, bem escrito e agradável de se ler... Gostei.
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