domingo, 15 de abril de 2012

A Queda dos Gigantes (Ken Follett)

Primeiro volume de uma trilogia que pretende percorrer a História do conturbado século XX, A Queda dos Gigantes é, acima de tudo, uma história de pessoas, das cinco famílias que, vindas de ambientes completamente diferentes, acabam por ter em comum a sua vivência dos grandes acontecimentos que marcaram o mundo. Esta é tanto a história global dos países que viveram a Primeira Guerra Mundial, das forças em conflito na Revolução Russa e das mulheres que lutaram pelo seu direito ao voto, como a história mais pessoal do crescimento de Billy e Ethel Williams, da paixão proibida de Maud Fitzherbert e Walter Von Ulrich, dos diferentes caminhos dos irmãos Peshkov e do papel de Gus Dewar na construção de um novo mundo. É das figuras que a vivem que se define esta história e é este o lado mais cativante em todo este longo caminho.
É a capacidade de criar empatia para com as personagens o grande ponto forte na construção deste livro, quer pela visão bastante realista (e que cria alguns dos momentos mais emotivos da narrativa) de como, muitas vezes, coisas más acontecem a pessoas boas e de como são os mais fracos que pagam pelas más decisões daqueles no poder. Este é um romance histórico, e não um livro de História, e, mais que a narração dos factos históricos, é a história das personagens, com os seus pequenos sucessos e as grandes tragédias pessoais, com a forma, em suma, como viveram os grandes momentos do mundo, que marca ao longo desta leitura. E, no que toca à construção das personagens, o trabalho é exímio. Construídas com todo um conjunto de qualidades e de defeitos, de forças e de vulnerabilidades, quase todas as personagens têm em si algo que deixa uma impressão no leitor, seja de empatia pela dificuldade das circunstâncias, de admiração pelo papel que desempenham ou de revolta para com os seus actos. Na verdade, muitos deles evocam várias impressões, por vezes contraditórias. Ninguém é perfeito. Todos são humanos e, como tal, todos são falíveis.
Não há um relato pormenorizado e absolutamente completo dos factos históricos, mas estes estão presentes na medida certa. É possível ter uma ideia bastante clara da situação global, quer pelas vivências das personagens fictícias, quer pelas suas interacções com as figuras históricas que surgem ao longo da narrativa. Há também uma imagem precisa dos conflitos de mentalidades: entre aristocratas e classe trabalhadora, entre feministas e os que se lhe opõem e, numa fase final, entre vencedores e vencidos. Cria-se, portanto, um contexto bastante sólido para a história das personagens essenciais desta história: talvez haja elementos históricos por desenvolver, mas o que estão presentes permitem aos protagonistas uma base completa para o seu crescimento. Crescimento que não termina com a conclusão deste livro, já que, tal como na vida real, nem tudo tem uma conclusão definitiva, ficando, por isso, um futuro em aberto para lá da última página.
Envolvente, com uma interessante conjugação entre História e ficção e uma linha narrativa que explora com mestria o caminho de um fascinante conjunto de personagens, A Queda dos Gigantes é um livro que, apesar do seu tamanho, cativa da primeira à última página. Muito bom.

3 comentários:

  1. Também gostei muito do livro e concordo com a tua análise. Mas não te parece que há aqui uma tentativa (pelo menos ao nível formal) de fazer uma espécie de "Guerra e Paz" do século XX?

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  2. Ainda não li o Guerra e Paz, por isso não posso elaborar muito quanto às semelhanças e diferenças, mas, sim, penso que há uma tentativa nesse sentido. Com a diferença de que o Follett é um autor bastante mais centrado nas personagens (comparativamente ao que conheço de Tolstoi) enquanto que, por exemplo, no Anna Karénina, há um tal ênfase na caracterização da época que, às vezes, as personagens se perdem de vista.

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  3. Estou a ler este livro agora e a adorar. Uma forma de aprender um pouco mais sobre certos fatos deste século. Personagens cativantes e a quem facilmente nos afeiçoamos. Espero pela edição dos volumes seguintes.

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