sexta-feira, 6 de abril de 2012

Incarceron (Catherine Fisher)

Criada para ser um mundo perfeito onde conter os criminosos e os inadaptados na aurora de uma nova sociedade, Incarceron, uma prisão consciente e tão vasta que os seus limites deixaram de ser conhecidos, evoluiu para se tornar algo diferente. Agora, o importante é sobreviver e todos os meios são justificados, já que aquele é o único mundo conhecido e, para quem vive no interior da prisão, o exterior não passa de uma lenda. Mas Finn não pode aceitar, não pode, como os outros, esquecer que Incarceron é uma entidade viva que o observa, e, mesmo não tendo memórias da vida antes da prisão onde terá nascido, Finn acredita que veio do exterior. Exterior que existe, afinal, pois é nele que Claudia, filha do governador da prisão, procura encontrar uma saída para o casamento de conveniência que a colocará em plena teia de intrigas. Tanto Finn como Claudia procuram, enfim, a fuga - mas é só quando uma estranha chave os coloca em contacto que começam a compreender que talvez se possam ajudar mutuamente.
Um dos elementos mais interessantes a surgir neste livro é o sistema em que decorre a narrativa. Tanto na complexidade de Incarceron, da qual muitos segredos são deixados por explicar, mas cujos meandros se tornam mais e mais interessantes à medida que a história evolui para revelar as particularidades da natureza da prisão, como na forma como esta surgiu e como se relaciona com o mundo exterior. Mundo exterior que é também desenvolvido na medida em que o aprofundar das suas características é necessário ao crescimento da história. Assim, a construção do mundo surge de forma gradual, definindo-se em torno da acção que surge como foco principal da narrativa.
No que toca ao enredo propriamente dito, não é difícil deduzir a solução para alguns dos mistérios apresentados, mas é interessante notar que, mesmo quando este conhecimento é mais evidente, a forma como as personagens chegam lá e as consequências inesperadas dessas revelações acabam por criar outras situações mais surpreendentes. A própria natureza de Incarceron proporciona momentos de surpresa, à medida que as teorias sobre a sua existência, e até mesmo os seus actos, se revelam no decurso da narrativa.
Também na caracterização das personagens há algo de bom a referir. Excluindo, talvez, Finn, que permanece bastante seguro no que o define ao longo de todo o livro, não há nenhuma personagem que seja apenas o que aparenta no início do livro. Quase todos os que parecem definir-se pelas características negativas apresentam alguma qualidade redentora e isto faz com que também as relações entre personagens apresentem um toque de inesperado.
Trata-se, portanto, de uma história cativante, com um sistema particularmente interessante que,  principalmente no que diz respeito à prisão, deixa a curiosidade em saber mais, e em que os momentos mais previsíveis se compensam com outras circunstâncias surpreendentes e com uma interessante relação entre personagens. Viciante, de leitura agradável, e com momentos muito bons, uma boa leitura. 

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