sexta-feira, 20 de abril de 2012

A Devota (Ricardo Tomaz Alves)

Sara foi educada no seio de uma família religiosa e, como tal, sempre teve uma fé absoluta no que lhe era ensinado sobre Deus e a religião. Mas os anos passados num colégio de freiras não servirão apenas para solidificar essa visão da vida tal como lhe é apresentada. Ao conhecer Tomás, Sara descobrirá um mundo onde questionar é tão mais importante do que acreditar e, para lá das injustiças vividas no colégio e dos actos que põem em causa tudo aquilo que lhe foi ensinado, Sara ver-se-á confrontada com um mundo mais vasto e mais complexo do que o que lhe foi apresentado na sua educação. E talvez ela não esteja preparada para lidar com esse mundo...
Com um início que surpreende pela situação peculiar que apresenta, e recuando depois ao passado da protagonista, este livro cativa, desde logo, por essa situação invulgar que desperta curiosidade em saber como se chegou àquele ponto. Cria-se, portanto, um imediato ambiente de envolvência, que se mantém ao longo da globalidade da história, mas que tem nos momentos vividos no colégio e na fase final dos acontecimentos os seus pontos de maior intensidade.
Apesar de alguns capítulos mais explicativos, a construção da história centra-se, em grande parte, na narração dos acontecimentos, deixando a reflexão sobre as temáticas como consequência das situações narradas. A pessoa em que Sara se transformou, com as suas circunstâncias delicadas, é, em primeiro lugar, um reflexo das suas experiências de vida, mas também uma base de reflexão sobre o contraste entre o dogma e a descoberta do conhecimento, entre a necessidade de aceitar o que é apresentado como verdadeiro e o caminho de busca de uma verdade pessoal. Revela-se, assim, um lado filosófico ao longo de uma história que, à primeira vista, parece ser bastante simples, culminando num final em que essa simplicidade da vida e as possíveis complexidades de uma reflexão sobre o mundo quase entram em colisão directa.
Sendo uma história relativamente curta, fica, por vezes, a impressão de que alguns aspectos poderiam ter sido mais desenvolvidos, nomeadamente a nível dos encontros na Casa e das relações complicadas na vida de Sara - tanto a nível familiar, como da sua presença no colégio. Fica a curiosidade em saber mais. Ainda assim, o essencial está lá e a narrativa flui de forma agradável, numa leitura cativante e, por vezes, surpreendente.
História de crescimento pessoal e interior, mas também interessante reflexão sobre a aceitação (ou não) das crenças estabelecidas, este é um livro que, apesar da aparente simplicidade na narração dos factos, introduz uma interessante perspectiva acerca da complexidade do mundo. Uma boa história, portanto, e uma leitura agradável.

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