terça-feira, 3 de abril de 2012

A Terceira Rosa (Manuel Alegre)


De Cláudia. De Xavier. E do amor entre ambos. De um romance atribulado num tempo em que as divergências políticas criavam conflitos entre famílias e amigos e em que a inocência e a fé nunca poderiam durar. De afecto inocente e de paixão sensual, de um amor que cresce e que atormenta, que vive e se transcende para além da dor, apesar da morte... Da vida, em suma, do futuro e da memória, se define esta história de um amor contado em partes, ao ritmo de uma recordação ambígua.
Longe de ser uma narrativa linear, é talvez a peculiaridade da sua estrutura o primeiro aspecto a cativar nesta leitura. Construído em fragmentos, sem uma linha temporal definido, mas antes oscilando entre um vago presente e as ambiguidades da memória, a história de Cláudia e de Xavier, com tudo o que os uniu e o muito que os separou, é contada ao ritmo do pensamento - e do sentimento. Há, portanto, o que parece ser uma deliberada ambiguidade no discurso, em que os momentos essenciais se destacam por entre um tom bastante introspectivo que se transmite de uma escrita quase poética.
Não há respostas para tudo. Das posições familiares no que toca à política e à revolução, das experiências provocadas por essa exacta posição e da vida vivida antes e depois de Cláudia apenas o que importa para o romance dos protagonistas é aprofundado. Ficam, portanto, algumas questões em aberto, mas fica também, desta incerteza, a ideia de uma história em que é o romance, no seu lado apaixonado como no seu lado destrutivo, o que realmente define a vida e o futuro dos seus protagonistas. Também o que é deixado por dizer realça a importância desse amor.
Trata-se, portanto, de uma leitura cativante, onde o aparentemente simples acaba por funcionar como base para a complexidade dos afectos e onde a ambiguidade da escrita poética realça, a cada fragmento, a forma como a memória pode ser nítida nos momentos mais marcantes para pôr de parte o que é menos importante. Gostei.

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